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Mostrando postagens de outubro, 2023

A visão de um homem quase velho

Lembrei da expressão Pensamento Mágico. Essa foi mais uma das Expressões que ouvi e apreendi em palestras realizadas nos colégios onde trabalho e me encanto. Quando pensei no título impulsionador do texto: A visão de um homem quase velho, tive a intenção de reviver momentos que tenho compartilhado com pessoas de todos os gostos, jeitos e formas. Tenho visto e prestado atenção em meus colegas mais velhos. Amigos dos quais não tenho nenhuma informação que não seja a visual. Colegas - homens e mulheres - que vestem todo tipo de cor, de sapatos, chinelos, calças, vestidos e jalecos. Aqui usei o verbete Jaleco porque adoro a palavra. Poderia ter usado mocassim, cachecol, sobretudo e até peignoir, mas aí eu iria elitizar muito o texto que desejo mais simples. Simples como o colega velho que vejo a conversar com um colega mais moço sobre a qualidade duvidosa das canções atuais. Sobre isso eu gosto sempre de lembrar Belchior, na poesia que nos questiona como podemos nos tornar parecidos com aq...

Fusca bege

Um fusca atravessou a via a toda velocidade e eu pude ver quase toda a sua trajetória. Não deu pra ver a frente, porque foi a partir da lateral que pude ver o real estado do conjunto de peças metálicas Um mosaico de peças de lata, pintadas cada uma de uma cor diferente. Porém o que me encantou foi pensar que o motorista e possível dono do automóvel, o tinha como meio de transporte e não como um bem durável e confortável. É confortável para mim, poder pensar assim? É cômodo, mas pra ele é um cômodo a mais e isso não o incomoda tanto. Tudo isso parece fora de moda, mas não está. A moda num país com tanta desigualdade social deveria ser a busca pela simplicidade. Não é porque a oferta vinda das redes é avassaladora e voraz. Na moda o veículo estaria com rodões de tungstênio, faróis de milha, pneus faixa branca e tudo aquilo que pouco me interessa, afinal até pouco tempo eu tinha o meu Fiesta 98 sem pintura. O que me era cômodo também. Era mitológico. Minha cabeça imaginou pra onde o condu...

Aromas, cheiros e perfumes

Eu estava sem ideia alguma para escrever, sentado aqui na poltrona do ônibus que está me levando de volta para Sorocaba. Estava, porque agora o tema veio avassalador, entrando pelas  minhas narinas. Coincidências existem aos montes, mas a que me encontrou foi essa: O banco da frente tem uma peça que se a gente puxar para baixo podemos descansar as pernas. No exato momento que resolvi usar esse artifício, um aroma acentuado de urina veio ao nosso encontro. Digo nosso porque o ônibus inteiro mexeu o pescoço, procurando a nascente do aroma. Eu escrevi sobre coincidência, já que pensei que o cheiro vinha do banco da frente e foram sincronizados, o movimento da peça e o cheiro. Dito isso, não demorou quase nada e o cheiro sumiu. Claro que continuei achando que a nascente era o banco da frente, porque foi só eu voltar a peça para o seu local de origem e o cheiro escafedeu-se. Esse encontro aromático levou meu pensamento até o dia que subi pelas escadas de madeira do Centro cultural ...

Conversas internas

Conversas internas Na sala de espera de um aconchegante local, encontrei escrita num quadrinho essa frase: "O silêncio é um espaço vazio. O espaço vazio é o lar da mente desperta". Logo pensei num dos muitos dias importantes da minha experiência. O dia no qual, numa palestra no Colégio, me foi apresentado o conceito de Conversas internas. Imagine o meu encantamento dado ao fato que sempre conversei comigo mesmo e achei ótimo. Na palestra o centro das atenções era a criança e suas conversas consigo mesma. A minha mente desperta, muitas vezes atropela o silêncio. Esse lar das ideias vive constantemente amontoado de informações das mais diversas. Informações escondidas nas entranhas das coisas, aquelas que desinteressam muita gente, muitas das quais as pessoas dão palpites sem sequer saber exatamente do que elas tratam. Tratar as informações múltiplas é algo que gosto muito de fazer. E faço isso conversando internamente, com a mente inquieta e uma vontade imensa. Vontade é algo ...

Gente, sou eu!

Essa é uma daquelas situações sobre as quais eu penso estar sozinho. Sei que não estou. Há muito tempo visitei uma loja antiga no centro de Sâo Paulo, chamada Museu do Disco. No fundo da loja havia a sessão de livros e revistas importadas. Ao folhear uma revista inglesa, logo vi uma charge que mostrava um homem feito com peças de quebra-cabeças. O homem estava montado do peito para cima e arrumava o resto das peças que estavam sobre uma mesa à sua frente. Foi aí que descobri que não estou sozinho com as minhas ideias esquisitas. Eu havia tido a mesma ideia no ano anterior e a diferença foi que no meu desenho havia mais cores pintadas à aquarela. Os traços pretos foram feitos com o mesmo Nanquim que o artista inglês imprimiu no seu trabalho. A história sobre a qual eu quero fazer relação com o que relatei acima acaba de se passar novamente no Metrô, na linha Vermelha. Entrei no trem e não havia lugar para eu sentar, porém gosto de viajar em pé. Na estação anterior a República vários pas...

Criança

Achei a criança que estava aqui. Dei um salto de costas para chegar até o colchão forrado com lençóis estampados com listras verdes e quadradinhos de várias cores. Levantei primeiro a perna esquerda, coloquei o pé da meia e depois fiz a mesma coisa com o pé da perna direita. Logo ao lado da cama, sobre um banquinho de madeira, está uma tábua que era a lateral de um móvel velho. Sobre essa espécie de escultura contemporânea estão as coisinhas da criança. Uma tampa de lata de paloma pascal aconchega miniaturas da patrulha canina, um porta copos com o distintivo do time do coração, uma pedrinha preta, uma mola, um clipe e mais trezentas e nove bugigangas feitas com vários materiais. Sobre a tampa de acrílico do aparelho de som estão CDs e livros dos anos setenta. Viro a cabeça, encarando a tampa da paloma e pego o nariz de Palhaço vermelho para colocar e fazer uma self. Essa figurinha em dez segundos  já fará parte da coleção do meu perfil das redes sociais. Levanto-me com as meias ve...

Metrô

Eu vi nascer. Houve época que me dirigia até o Jabaquara, o final da linha e começo de ótimas vivências que se tornaram memoráveis. Quando saí da grande cidade deixei as máquinas escavadeiras que começavam a transformar a praça de Santa Cecília em Estação. Hoje é uma das que passo apenas de passagem como um passageiro observando a obra de arte transparente, que deixa à vista folhas verdes e pedregulhos cinzas. A ideia que me motiva é a ideia do estar embaixo. Embaixo dos Dias, Casas, Habitantes, Supermercados e bocas de lobo. A ideia de infiltrar-me entre o asfalto que por hora está molhado pela chuva é a ideia de um mero aspirante a desbravador. A água que teima em escorregar pela parede de concreto quase esbarra no painel da Tommie. Ser acompanhado por muitas obras de grandes artistas - estação por estação - todos revisitados pela Plástica do estar embaixo, me encanta como quando entro numa loja de materiais artísticos, já em cima. Um encantamento de querer mexer, querer incessanteme...

Alcachofras

A questão da hora marcada é uma questão de ideologia. Insetos com aparência minúscula se escondem nas profundezas das pétalas de alcachofras. Aparece para todos os que lidam nessa cozinha a discussão sobre se os insetos são lagartas. Não é uma coisa futura, mas presente. É lagarta, ou inseto? Vejo que eles estão formadíssimos. Seis patinhas e tudo. E agora? Estão vivos, ou mortos? A moça nem esperou e já respondeu com jatos de água e imersão das flores em água estéril. Não sobrou nem larva, nem inseto, nem patas, nem perninhas. Todos jazem no sifão, ou nos encanamentos mais abaixo. E os fatos vão se desenrolando um a um no compasso das ansiedades e tranquilidades de cada chef cidadão. As mãos amassam as migalhas de pão com azeite e salsinha. A menina que tascou o pé num tronco que estava no meio da calçada acabou de chegar vinda do hospital, vestindo uma pulseirinha cor de laranja. Duas laranjas acabam de ser espremidas para o suco da querida senhora, que espera o almoço na cama e assi...

Cá estou

Cá estou eu às voltas com meus botões. Quando eu era adolescente eu tinha um time de botões feito com lentes de relógio. Isso mesmo, a gente ia à relojoaria para comprar lentes velhas, colocávamos decalques por dentro com os distintivos dos times e o goleiro era feito com uma caixa de fósforos encapada com papel. Hoje eu chamaria de papietagem só para garantir que eu conheço alguma coisa de Arte. Nesse tempo Seu Lourival me levava para visitar Ateliês de escultores e pintores sorocabanos. Já meu pai comprava nas bancas de São Paulo os fascículos da Coleção Gênios da pintura. Só pude encadernar um volume. Era caro e eu gostava mais de esparramar os fascículos no chão e folheá-los. Fascinante os fascículos. Imagine que na época eu nem fazia essa relação com as palavras. Eu era jovem e curtia Perdidos no espaço e Terra de gigantes. O túnel do tempo era outra história. Tipo essa que eu enfrento hoje com meus botões. As rosas sempre me remeteram a botões mais orgânicos, de beleza imaginária...