Metrô
Eu vi nascer.
Houve época que me dirigia até o Jabaquara, o final da linha e começo de ótimas vivências que se tornaram memoráveis.Quando saí da grande cidade deixei as máquinas escavadeiras que começavam a transformar a praça de Santa Cecília em Estação.
Hoje é uma das que passo apenas de passagem como um passageiro observando a obra de arte transparente, que deixa à vista folhas verdes e pedregulhos cinzas.
A ideia que me motiva é a ideia do estar embaixo.
Embaixo dos Dias, Casas, Habitantes, Supermercados e bocas de lobo.
A ideia de infiltrar-me entre o asfalto que por hora está molhado pela chuva é a ideia de um mero aspirante a desbravador.
A água que teima em escorregar pela parede de concreto quase esbarra no painel da Tommie.
Ser acompanhado por muitas obras de grandes artistas - estação por estação - todos revisitados pela Plástica do estar embaixo, me encanta como quando entro numa loja de materiais artísticos, já em cima.
Um encantamento de querer mexer, querer incessantemente produzir, produzir, produzir.
Aqui embaixo, Imagens vindas de telas planas de todos os tamanhos nos chamam para Universidades digitais, cursos de inglês e filmes que irão estrear na próxima semana nos cinemas fixos ali em cima e escorados por alicerces firmes.
Todos sobre nós, que agora imaginamos as cenas, fuçando nossas mochilas a procura de ingressos.
Sim, eu uso mochila nas costas quando espero o trem do metrô.
Quando ele chega e eu entro, quase sempre não está lotado, nem cheio com meus semelhantes agitados e frenéticos, pensando em tudo menos na filosofia do estar aqui embaixo.
Ao contrário, penso que uma legião de claustrofóbicos nem ousam descer as escadas rolantes em busca dessa pequena aventura da qual os tatus estão mais acostumados.
E pensar que quando eu tinha dezoito anos eu subia e descia cento e oitenta e oito degraus com fobia de entrar no elevador.
Outro dia eu e minha mãe ficamos presos no elevador do nosso prediozinho por trinta minutos até chegar o socorro e ficamos sentados no assoalho jogando conversa fora na maior tranquilidade.
Todos nós somos deficientes de alguma maneira.
E eu aqui embaixo ouvindo as três notas propagadas por um saxofone na linha amarela.
Esse som antecede a moça que anuncia a próxima estação.
Escrevo agora essas mal traçadas linhas já dentro do ônibus que mais uma vez me leva de volta para Sorocaba.
Daqui de cima lembro de gostar bastante da logomarca mais velha do metrô de São Paulo.
A imagem me remete à frente de um trem na perspectiva de estar chegando, uma seta para cima, outra para baixo e tudo isso construindo duas letras EME na cor azul.
Essa pequena história de para cima e para baixo já produz em mim a sensação de ter feito meu agachamento semanal.
Bora malhar aqui em cima porque mais embaixo o fogo deve arder solto
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