Aromas, cheiros e perfumes

Eu estava sem ideia alguma para escrever, sentado aqui na poltrona do ônibus que está me levando de volta para Sorocaba.

Estava, porque agora o tema veio avassalador, entrando pelas  minhas narinas.
Coincidências existem aos montes, mas a que me encontrou foi essa:
O banco da frente tem uma peça que se a gente puxar para baixo podemos descansar as pernas.
No exato momento que resolvi usar esse artifício, um aroma acentuado de urina veio ao nosso encontro.
Digo nosso porque o ônibus inteiro mexeu o pescoço, procurando a nascente do aroma.
Eu escrevi sobre coincidência, já que pensei que o cheiro vinha do banco da frente e foram sincronizados, o movimento da peça e o cheiro.
Dito isso, não demorou quase nada e o cheiro sumiu.
Claro que continuei achando que a nascente era o banco da frente, porque foi só eu voltar a peça para o seu local de origem e o cheiro escafedeu-se.
Esse encontro aromático levou meu pensamento até o dia que subi pelas escadas de madeira do Centro cultural até o primeiro andar.
A memória olfativa me lançou até o tempo no qual eu brincava no Clube de Campo, ao lado de uma árvore frondosa e senti um cheio que nunca antes havia sentido
Descubro agora que quando falo de urina você quase que automaticamente se lembra do aroma, porém, esse vindo da árvore frondosa é impossível que eu descreva.
O que é possível é a descrição do que havia colado à casca da árvore bonita.
Enormes lagartas verdes, umas sobre as outras numa quantidade incontável.
Esse foi o cheiro memorável que aconteceu junto ao meu subir escadas.
União de Madeira e madeira, escadas e árvore.
Esse fato é memorável de tal forma que isso aconteceu há muito tempo.
Muito tempo mesmo.
E tudo isso bem hoje que estou levando na mochila o meu perfume de tampa plástica verde, embalado num saquinho de supermercado.
Perfume antigo guardado em São Paulo.
Arbo.
Daqui do assento não sentia mais o aroma grosseiro da filtração provocada nos rins de alguém que ao meu ver, culpa nenhuma tem no exalar nada místico, que povoou o espaço do nosso ônibus.
Eureca.
A senhora sentada no banco ao lado, fala em voz alta, no mesmo instante que como mágica, saindo da lâmpada do Aladim perfumoso, o aroma de urina volta estonteante:
"O cheiro desse banheiro está Trash".
A todos vêm tudo às claras.
Aguçam nossas narinas e as sinapses das nossas mentes.
O fim do mistério é o banheiro.
A grande discussão entre vários passageiros é sobre o tempo que o vaso e a cabine não são higienizados.
Na minha cabeça aparecem as imagens de Cândida, Desinfetantes, Pinhos sóis e o detergente amarelo da Limpol.
A moça que está fazendo a limpeza lá no nosso apartamento disse que ela gosta de limpar os banheiros com detergente neutro.
Na ida ao mercado descubro que o neutro é o amarelo.
Só de pensar na cor, automaticamente a minha mente é transportada novamente para a conversa que tomou conta do ônibus.
Conversas rinariamente criativas e despertadoras.
Quando descer no Terminal São Paulo falarei para o motorista sobre a necessidade do asseio no banheiro do Coletivo.
Repare que ainda estamos na Castelinho, estrada de acesso à cidade e a minha ansiedade ainda não é terminal.
Ansiedade compulsiva.
Lembro que me esqueci.
Paradoxal, mas realista.
Tanta fala sobre aromas, cheiros e perfumes e eu esqueço de acender a vela aromática que ganhei do meu coordenador no dia dos professores.
Sem ideia me restou o acaso cheiroso.
Nessa semana acenderei a velinha bonita.
Acabo de me lembrar daquela brincadeira: O que é, o que é? feita com seis palitos.
Aquela:
Escreva com seis palitos de fósforos o que é um líquido amarelo e quente.
Hummm

XIXI

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