Cá estou

Cá estou eu às voltas com meus botões.

Quando eu era adolescente eu tinha um time de botões feito com lentes de relógio.
Isso mesmo, a gente ia à relojoaria para comprar lentes velhas, colocávamos decalques por dentro com os distintivos dos times e o goleiro era feito com uma caixa de fósforos encapada com papel.
Hoje eu chamaria de papietagem só para garantir que eu conheço alguma coisa de Arte.
Nesse tempo Seu Lourival me levava para visitar Ateliês de escultores e pintores sorocabanos.
Já meu pai comprava nas bancas de São Paulo os fascículos da Coleção Gênios da pintura.
Só pude encadernar um volume.
Era caro e eu gostava mais de esparramar os fascículos no chão e folheá-los.
Fascinante os fascículos.
Imagine que na época eu nem fazia essa relação com as palavras.
Eu era jovem e curtia Perdidos no espaço e Terra de gigantes.
O túnel do tempo era outra história.
Tipo essa que eu enfrento hoje com meus botões.
As rosas sempre me remeteram a botões mais orgânicos, de beleza imaginária no sentido de imaginá-los como seriam quando rosas fossem.
Encantavam-mesmo os botões.
Aperto o doze que é o seu andar inspirou o Nando lá em Laranjeiras.
Aperto o dois e o três.
Voo mais baixo e giro o botão do fogão meia boca que comprei pra mamãe.
Pra mamãe e pra mim.
Mamãe sempre foi de uma boca esperta, ferina, uma lâmina afiada.
Não sei onde foi parar a lata de panetone Bauducco onde ela guardava botões de todos os tipos, formas e cores, inclusive aqueles que vêm costurados na parte interna das camisas de mangas longas.
Ela achava que pinicava os nossos braços.
Cá estou eu com meus botões.
Botões feito tiras de pano forte daqueles que amarram a camisa de força.
Cá estou eu com meus botões.
Estou com os seus também.
O problema é que você nem tem um botão que me desligue

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