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Mostrando postagens de fevereiro, 2025

Cata ovo

Tenho dificuldade para usar chapéu. Descobri depois de um tempo, porque os bonés na minha cabeça ficam horríveis. Quando vou comprar um boné as pessoas logo falam que ele tem uma ajuste com velcro na parte de trás da cabeça. Ótimo, tem mesmo. Porém, quando ajusto, ele fica um volume enorme sobre o meu couro cabeludo. Horrível, mas nesse calorão eu uso pra proteger a careca. O que eu descobri é que tanto chapéus como bonés, são normalmente vendidos até o número 58. Minha cabeça é sessenta. Aí você consegue imaginar o tal volume excedente sobre a careca. Há muito tempo tentei usar um cata ovo. Fica engraçado, mas apesar de adorar pagar de engraçadinho, desta feita a coragem me faltou. Estava parado no ponto de ônibus circular e da calçada eu vi a maquete do prédio em construção, o muro estampado com duas flores gigantes. Desta vez o que me chamou à atenção foi uma escada de alumínio com dois lances. Possivelmente ela leva os trabalhadores para o vestiário e para os banheiros. Químicos. O...

GPS

Quase todo mundo sabe que eu adoro as palavras e suas conexões. Global Position System, o tal GPS. Eu tanto adoro as palavras na língua portuguesa que eu não sei quase nada da língua inglesa. Portanto, um Sistema de posição global me parece mais interessante, já que de imediato já me gera interesse imenso. Esse imenso sugere o sotaque da minha filha. Já imagino aquelas cenas em séries, filmes e vídeos, registradas de cima por um Drone. Escrevi essa frase imaginando os satélites girando ao redor da Terra e captando a nossa posição. Outro dia vi na TV um estuprador sendo preso em São Paulo porque o seu rosto foi detectado pela polícia paulistana, usando inteligência artificial, posto que existem muitas câmeras espalhadas pela cidade. Senti que eu estava no meu elevador, que além de uma câmera, tem o fundo espelhado. Eu sou tão nada a ver que fico preocupado em olhar para o espelho, ficar observando meus tricepes e meus bícepes e ser flagrado pelo povo lá de Campinas que fica monitorando ...

Apreender

Sempre penso na importância de ensinar, mas principalmente na importância de aprender. Quando eu mesmo, ao pronunciar sozinho: Publicidade e Propaganda, percebi que se tratava de Tornar Público e Propagar. Faz mais tempo que percebi que Interpretar é entrar no escuro do desconhecido e trazer à luz a compreensão. Inter, dentro Preto, escuro Interpreto. Andando na calçada do outro lado da rua olhei a Logo da Caixa Econômica Federal e vi o corte do cifrão em laranja e no vão do X o S. Acabo de escrever o verbete Cifrão e percebo que ele vem do verbete Cifra, qual seja, quantia, número, cômputo geral. E claro que como toda palavra linda em português, também existem as cifras como posições no violão. Acordes de dó, ré e assim por diante. Desde 2003 a minha assinatura é 13tu, afinal nasci no dia 13 e o 13 é um B. O Bradesco e o Banco do Brasil tiveram a mesma ideia só que em dezembro de 2012. Na Campanha publicitária desejaram um Feliz 2013radesco e Feliz 2013anco do Brasil. Rio porque rico ...

Rima

Eu sempre gostei do disco de vinil: Construção, do Chico Buarque. A começar pela capa, tamanho trinta e um e meio por trinta e um e meio. Uma foto retangular no centro, na vertical, com a imagem do Chico com uma das mãos na cintura, primeiro e último planos desfocados. A coisa mais fantástica era aquela cor indescritível no fundo. Seria algo que nos levasse aos tijolos? Porém que tijolos eram esses, de uma cor que amou daquela vez como se fosse a última? Tijolo com tijolo num desenho lógico. Ontem mesmo eu mostrava mais uma vez na minha aula de Arte a questão da sílaba tônica. Mais um dos ensinamentos que a dona Anna me proporcionou: Todas as proparoxítonas levam acento, já que estão em menor número no vocabulário da nossa língua portuguesa. Quando depois da sílaba tônica vêm duas sílabas fracas, a palavra é proparoxítona, disse-me uma vez a dona Anna, tirando com gilete uma lasca do lado oposto à ponta do lápis para escrever o nome Cury, com caneta Bic. E a construção do Chico é preci...

Vontades

  Pensa numa vontade imensa de conversar com o motorista do ônibus circular. A minha. Tudo porque eu, como idoso, fico em pé ao lado dele, esperando o meu desembarque. Com certeza a vontade começou mesmo quando um jovem senhor mostrou a identidade para o motorista na hora de descer. Veio imediatamente à minha cabeça a época na qual eu e Sandra tínhamos cinquenta e nove anos e fomos ao cinema. Ainda não havia auto atendimento nos cinemas. Sandra foi me orientando antes de chegar no guichê: Compre duas meias entradas, afinal o jovem, ou a jovem que irá verificar as entradas, ao nos verem, vão logo imaginar: Esses dois com certeza têm no mínimo setenta anos, nem vou pedir as identidades. E não é que é verdade? Quando eu atingi uma Certa idade, aos olhos dos mais jovens eu aparento ser o Eremita Santo Antão. Rio, mas é verdade. Claro que boa parte dos meus amigos alunos e ex alunos dirão: Nossa Betu, você está igualzinho! Claro, igualzinho às uvas passas que eu coloco no meu iogurte co...

Rastreio

Eu não estava procurando nada, mas acabei encontrando. É claro que o Chico Cesar já usou essa referência numa letra, mas esse meu encontro foi apenas referendando a oração. Ontem na hora do almoço eu escolhi o restaurante do Colégio. Um prato cheio de saladas sem folhas, mas recheado com legumes. Sal, legumes refogados, uma colher de arroz, uma concha cheia de feijão e dois peitos de frango num molho particularmente excelente. Quando eu estava levantando da minha cadeira um grupo de quatro ex alunas artistas havia acabado de ter uma aula de História da Arte com o professor João. Foram minhas alunas no oitavo e no nono ano do Ensino Fundamental. A aula de quarenta e cinco minutos foi sobre: O que é Arte? Foram logo me perguntando: Betu, pra Vc o que é Arte? Claro que até me sentei para responder. Há uma coleção de pequenos livros e um deles tem o título: O que é Arte? Foi pensado e escrito pelo Jorge Colli e na última página ele escreveu: Vocês reparam que eu só pude dissertar sobre o s...

Clássico

Hoje bem cedo eu dei ré no meu Classic preto dentro de estacionamento e comecei a ouvir com atenção aquele barulhinho estridente do sinal de ré. Não confundi com o Barulhinho Bom da Marisa Monte e no tempo mais breve possível pus no ponto morto e logo depois engatei a primeira marcha. Apertei o controle remoto do portão, passei e depois de já ter entrado na rua Belmira, fechei o portão de correr. Nome interessante para um portão, já que muitas vezes a gente pensa que tem que correr pra fechar o portão, na angústia de imaginar ele amassando, amassando e reamassando o carro até dividi-lo ao meio ao chegar no final do trilho. Angústia boba, afinal existe um sensor de infravermelho que não permite que isso aconteça. Escrevi essa frase e já me deu vontade de explicar a história do arco-íris. A primeira cor do espectro visível da luz, cá embaixo, é o vermelho e a última cor lá em cima é o violeta. Essas são as cores limite das cores que conseguimos ver. Tudo o que há embaixo do vermelho não ...