Rima

Eu sempre gostei do disco de vinil: Construção, do Chico Buarque.
A começar pela capa, tamanho trinta e um e meio por trinta e um e meio.
Uma foto retangular no centro, na vertical, com a imagem do Chico com uma das mãos na cintura, primeiro e último planos desfocados.
A coisa mais fantástica era aquela cor indescritível no fundo.
Seria algo que nos levasse aos tijolos?
Porém que tijolos eram esses, de uma cor que amou daquela vez como se fosse a última?
Tijolo com tijolo num desenho lógico.
Ontem mesmo eu mostrava mais uma vez na minha aula de Arte a questão da sílaba tônica.
Mais um dos ensinamentos que a dona Anna me proporcionou:
Todas as proparoxítonas levam acento, já que estão em menor número no vocabulário da nossa língua portuguesa.
Quando depois da sílaba tônica vêm duas sílabas fracas, a palavra é proparoxítona, disse-me uma vez a dona Anna, tirando com gilete uma lasca do lado oposto à ponta do lápis para escrever o nome Cury, com caneta Bic.
E a construção do Chico é precisa no seu tráfego lógico e trágico
Morrer na contamão é morrer como o moço que foi retirado grosseiramente da família, como nos mostrou o filme que concorre ao tal prêmio máximo do cinema.
Máximo, prêmio, proparoxítonas.
Construir aqui parece um gancho, que fisga o feno que alimenta o rancho.
Palavras que parecem notas, são guiadas por livros e eles descrevem as rotas.
A sequência nata da narrativa quente, revela quase tudo o que o corpo sente.
O tijolo unido ao outro por puro cimento, constrói o morro que resiste ao vento.
É assim que o amigo entende que a amiga assume seguir em frente.
O amor que eu tenho pra mim é menor do que aquele que não tem mais fim.
A leoa me indica com sua raça o caminho da vontade que desenha a taça.
São os filhos que brincam de crescer felizes, moldando com sorriso as raras cicatrizes.
Vejo na sorte o trabalho da gente, sem que eu me esqueça do poder latente.
Periscópio visível acima da linha do mar, enxerga a coisa que eu pensei achar.
Essa coisa é algo que está tão fora, ou é algo que eu sou agora?
Um bordado em arame é rastro de beleza, enfeita o carro e revela a clareza.
Mãos hábeis que mobilizam as tiras de couro, botões de barro, cordões de ouro.
Uma mesa limpa propõe o desenho e o sabão de coco carrega na massa o seu desempenho.
O que será que há de estranho entre o sabão e o seu rebanho?
O menino feliz com seu desenho abstrato não entendeu a ausência de ser retrato.
Digo retrato fiel do astronauta, já que uma mera linha solta a ele falta.
Contradições das pessoas que nem sempre compreendem o tamanho de tudo o que não entendem.
Situação comum e corriqueira em mentes elétricas sem estribeira.
O estribo constante a todos limita, somos crias tolas já que tudo irrita.
Irrita os olhos a poeira fina, assim com a fala que desafina.
Nada é mais lógico do que o erro, ninguém acerta sempre no desespero.
Falta de esperança não se fesfaz com qualquer coisinha que satisfaz.
Tijolo com tijolo num desenho lógico.
Acabei de ouvir a Shakira cantando Mama África, apresentada na rede pelo outro Chico que é César e ouvi na mesma rede o Eduardo que é Bueno lembrando da ancestralidade mundial que nasce da Nossa Mãe, a África.
África leva acento e não apenas porque é proparoxítona





Comentários

  1. Sem palavras aqui. Não consigo expressar a emoção que senti com este texto então só me resta usar esse instrumento limitado aqui 👏👏👏👏 e este 😭😭😭 Caramba!! Bom demais!!!

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