Rastreio
Eu não estava procurando nada, mas acabei encontrando.
É claro que o Chico Cesar já usou essa referência numa letra, mas esse meu encontro foi apenas referendando a oração.
Ontem na hora do almoço eu escolhi o restaurante do Colégio.
Um prato cheio de saladas sem folhas, mas recheado com legumes.
Sal, legumes refogados, uma colher de arroz, uma concha cheia de feijão e dois peitos de frango num molho particularmente excelente.
Quando eu estava levantando da minha cadeira um grupo de quatro ex alunas artistas havia acabado de ter uma aula de História da Arte com o professor João.
Foram minhas alunas no oitavo e no nono ano do Ensino Fundamental.
A aula de quarenta e cinco minutos foi sobre: O que é Arte?
Foram logo me perguntando:
Betu, pra Vc o que é Arte?
Claro que até me sentei para responder.
Há uma coleção de pequenos livros e um deles tem o título:
O que é Arte?
Foi pensado e escrito pelo Jorge Colli e na última página ele escreveu:
Vocês reparam que eu só pude dissertar sobre o significado da Arte a partir dos seus produtos?
E segui:
Antes eu afirmava que o Dom, o Talento artístico não existia e portanto todas as pessoas poderiam fazer Arte.
Descobri pela experiência que não.
Existem pessoas que vêm além da função das coisas.
E dei como exemplo o fato de olhar para um ventilador que estava fixado na parede direita do restaurante.
Para mim o que vejo vai além do ventilador.
Ele tem pás e pás são usadas na terra, ele gira e isso me remete à energia heólica, minha experiência diz que quando você compra um ventilador de plástico ele pode vir sem a porca do parafuso central. Quando você procura na loja, o moço fala que a porca têm que ter o que eles chamam de rosca esquerda, afinal se você comprar uma de rosca normal, ao girar, a porcas desrosqueará.
Sensacionais motivos para poemas, enredos, composições musicais e coreografias.
Noutro dia Sandrinha começou a cantarolar uma canção feita a partir dos ruídos que a máquina de lavar roupas produzia.
O Maravilhoso irmão do Alfredinho, quando encostou o cotovelo na geladeira e pôs a mão no ouvido fez uma música sensacional naquilo que o Sensacional tem das mais bonitas sensações.
Aquilo que sabiamente o poeta Manoel de Barros chamou de Antevisão.
Não preciso nem voltar ao livro e à impressão do Jorge Colli.
Quando usei o verbo Ver, não é apenas ele que entra na Equação.
Os cinco sentidos estão envolvidos naqueles que produzem Arte, através das Artes Visuais, do Teatro, da Dança e da Música.
Quando Maira cria uma coreografia a partir da música Salada de Bicho, todos os sentidos anteveem a sequência de movimentos relativos.
Quando o mestre Lelis cria um enredo para suas peças, acontece da mesma forma.
Quando o músico Junior compõe e quando o Chanes cria suas serigrafias, o mesmo processo acontece.
Existem aqueles que acreditam ser impossível afirmar o que é Arte, mas a gente percebe que é bem fácil.
Quando o senhor Pablo Picasso proferiu a frase: Ou é fácil, ou é impossível, ele quis dizer exatamente o que eu descrevi acima.
Artistas Existem e para eles é fácil.
Todas as outras questões envolvidas têm a ver com o Mercado, mas sobre isso eu nem quero escrever.
A hipótese de eu poder ensinar Arte na escola se baseia nesse conceito básico que descrevi.
Os objetos da Arte são objetos de estudo.
Estou no busão do Cometão e quem desenvolveu a estampa dos estofados e as imagens externas dos ônibus foi a minha ex aluna que cursou arquitetura.
Para não faltar com o crédito, foi a empresa de comunicação que ela tem com o marido.
Artistas.
E assim vou achando sem procurar.
E é por isso que não gosto de achismos.
Preciso pesquisar, estudar, ficar sabendo quando ainda não sei sobre alguma coisa.
O achismo é nocivo, o achar sem procurar está posto a nós em todos os instantes.
Quando escrevo Lhamas a palavra é incrivelmente instigante.
Afinal imagine um encontro consonantal numa sílaba.
Repare que escrito assim parece um outro mundo recheado de consoantes, mas no final é bem simples.
Os encontros consonantais produzem sons extraordinariamente incríveis, Ch, Lh, Rr, Gr e assim eternamente.
Os retratos da Lhama.
Numa aula de Arte que ministrei há tempos, o Ariam estava no círculo de alunos que propús.
Coloquei uma cadeira no centro e fui perguntando:
O que é isso?
A primeira pessoa me respondeu:
Uma cadeira.
Quando chegou a vez do Ariam ele disse:
A espera.
Uns três anos antes fiz a mesma proposta com outra turma e a moça que hoje tem dois filhos e mora no Rio Grande me respondeu:
Eu vejo a poesia do objeto
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