Clássico
Hoje bem cedo eu dei ré no meu Classic preto dentro de estacionamento e comecei a ouvir com atenção aquele barulhinho estridente do sinal de ré.
Não confundi com o Barulhinho Bom da Marisa Monte e no tempo mais breve possível pus no ponto morto e logo depois engatei a primeira marcha.
Apertei o controle remoto do portão, passei e depois de já ter entrado na rua Belmira, fechei o portão de correr.
Nome interessante para um portão, já que muitas vezes a gente pensa que tem que correr pra fechar o portão, na angústia de imaginar ele amassando, amassando e reamassando o carro até dividi-lo ao meio ao chegar no final do trilho.
Angústia boba, afinal existe um sensor de infravermelho que não permite que isso aconteça.
Escrevi essa frase e já me deu vontade de explicar a história do arco-íris.
A primeira cor do espectro visível da luz, cá embaixo, é o vermelho e a última cor lá em cima é o violeta.
Essas são as cores limite das cores que conseguimos ver.
Tudo o que há embaixo do vermelho não nos é visível, portanto são chamados de raios infravermelhos e tudo o que há acima do violeta são chamados de raios ultravioletas.
Infra, abaixo, ultra, acima.
Interessante que o Ultraman, quando precisava buscar energia do sol para recuperar seus superpoderes, piscava no peito uma luz vermelha.
Fosse eu o criador do herói teria feito piscar uma luz violeta, Ultravioleta.
Porém esse texto começou com a ideia de eu estar dirigindo meu Classic preto.
Cheguei no Colégio, participei de uma reunião sobre o Novo Método e quando estava na marginal do Rio Sorocaba observei o maravilhoso volante, também conhecido como direção.
Lembrei que quando o Fernandão me vendeu o automóvel, a primeira coisa que ele me mostrou com relevância foi o volante:
Olha que maravilha Betão!
E realmente ele era bonitinho e novinho.
Agora, ele está todo cheio de marcas de arranhões de todos os tipos, como se, a tempos, o atrito das mãos fosse raspando o material essencial.
Plástico, borracha, enfim.
Nada disso me interessou mais do que a relação que fiz dessa observação com o fato de que tudo vai de deteriorando, no decorrer dos dias e das ações que roçam, roçam até nós desgastar de forma a necessitarmos de manutenção e reparos.
E já fui tendo ideias, já que os sulcos na direção plástica emborrachada são bem superficiais, mas enfeiam o objeto.
Ainda não pesquisei a melhor forma de recuperá-lo e nem se é possível tal feito.
Fato é que eu sempre acho um jeito de gastar meu tempo com gambiarras consertáveis.
Outro fato é que quando eu era mais jovem as gambiarras eram incorrigíveis.
Eu ia consertar e a coisa só tinha um destino depois do feito:
O lixo.
Para algumas vezes não havia erro.
Eu desmontava o espelho da tomada, encontrava o miolo onde estavam plugados os dois fios, desparafusava, cortava o plástico encapador, plugava novamente, montava o espelho rosqueando os dois parafusos e pronto.
Não funcionava.
Ou seja, eu não testava antes de remontar.
Na primeira vez, o outro fio também estava desconectado e eu não percebi.
Precisamos não ter nem vergonha e nem covardia para testarmos nossas ações repetitivas.
No meu caso as gambiarras existenciais são vistas por mim mesmo como coisas intuitivas.
Normalmente as ideias aparecem no banho, ou no meio da marginal dentro do Classic.
Claro que não nascem do nada, tanto que a minha memória saudosista é acionada nesses dois fazeres.
Chamo de memórias saudosistas porque toda hora estou matutando e desta forma o que pensarei daqui há meia hora já me foi autoalertado agora.
Coisa de gente ansiosa e hiperativa.
É uma avalanche constante, mas nada que uma série de suspense policial não alivie, de preferência que ela não tenha tantos tiros.
Sobre isso e permanecendo nas avaliações sobre a vida, eu também não entendo nessas séries, porque quando o agente está apontando a arma para o bandido e grita:
Ponha a arma no chão!
Quando o bandido além de não atender ele ameaça disparar, o agente atira no coração e mata o sujeito.
Atirasse no ombro, no joelho, no antebraço, na tíbia, no perônio:
Não!
Ele atira pra matar.
Outro dia o bandido tinha uma informação importantíssima para dar pro policial, mas não pode fazê-lo por levou um tiro no no meio da Haorta, partindo-a em duas partes jorrantes.
Enfim, essas são outras considerações.
O que eu quero realçar é que podemos encarar esse enfeiamento dos nossos objetos, com resiliência, mas oferecendo ações contundentes.
No Classic, outro adereço preocupante está sendo o estofado.
De tanto roçar o jeans, pra não dizer outra coisa, o tecido ainda não está esgarçado, mas já preocupa.
Não adianta pré ocupação.
Aí eu lembro a frase de uma grande Doutora e de um grande Doutor.
Quando você ficar doente você toma remédio!
Sendo que essa fala se refere principalmente à necessidade de suplementos.
Quando o nosso estofado rasgar a gente deve ter umas ideias e compartilhá-las com quem acreditamos.
Gambiarraremos juntos.
Deixei o meu Classic bem estacionado no estacionamento e liguei o alarme.
Os vidros se fecham sozinhos.
Liguemos o nosso alarme e quando ele apitar que a gente possa estar alerta para o concerto.
Sim.
O Concerto mesmo!
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