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Mostrando postagens de maio, 2025

Consulta

Não é cem por cento, mas é quase. Já não consultamos mais os dicionários de papel. Com certeza várias pessoas consultam as tarólogas e tarólogos que colam seus cartazes nos postes das cidades. A promessa é que tragam o seu amor de volta. Devo consultar o mais íntimo de cada relação para saber porque alguém vai querer um amor de volta, sabendo que o outro, ou a outra já terminou o relacionamento? Tudo bem, não me consulte a respeito porque nunca saberei a resposta. Até os médicos consultam apenas os exames de laboratório e os exames de imagem. E eles vêm todos nos seus computadores dos consultórios. Não são cem por cento deles, mas quase. A primeira consulta deve ter sido com um vizinho. Olá vizinho, será que eu posso cercar esse pedaço de terra? Antes disso o vizinho de fogueira deve ter sido consultado: Uga, Uga, o que é essa coisa quente que está saindo desses pedaços de árvore? Consultar os astros já foi tarefa a ser feita com régua no papel onde estavam impressos círculos a serem p...

A cura

Na coleção da revista Seleções havia uma página cujo título era: Rir é o melhor remédio. Tratava-se de uma página de humor e os textos bem humorados não continham imagens. Os cientistas dizem que o sorriso movimenta não sei quantos músculos da face, mas nem tem importância se isso é Fake, afinal rir é o melhor remédio. O problema é que nem sempre a gente está disposto, ou mesmo em condições emocionais para sorrir. Eu sou um sujeito que tem facilidade nesse quesito. Rio com qualquer comédia e sempre admirei a gíria antiga: Esse cara é um Comédia. Achei mega interessante um moço budista dizer que quando a gente está bem fisicamente a gente pensa em mil coisas e quando adoecemos só conseguimos focar na doença, ou seja, só conseguimos pensar numa única coisa. É bem isso. O multifoco exige de nós boa saúde. Bactérias e vírus são ferozes. Esses micro-seres agem por conta própria, portanto precisamos não apenas estar atentos, mas precisamos fazer de tudo para melhorarmos a nossa resistência. ...

Espaços

No curto espaço que há entre o travesseiro e a nossa cabeça, toda história de alguém que é diferente vai interessar. Ser diferente talvez seja como ser uma pássaro cuidando do seu ninho. Talvez seja um João de Barro construindo a sua casa com argila, essa construtora de pessoas, segundo o simbólico. Talvez seja uma andorinha com o peito branco da paz fazendo os verões. Alguém diferente talvez seja um canário de voz suave e doce. Um rouxinol que gorjeia para imperatrizes. Um bem-te-vi que vê além dos limites da visão física. Uma pomba que traz no bico um ramo de oliveira anunciando que a chuva passou. Diferente talvez seja a águia observadora que sobrevoa o mundo todo com olhos atentos. Talvez seja o pássaro alfaiate crochetando com as folhas das flores arrumadas em ikebanas. A história de alguém que é diferente não deixa o céu de forma alguma. Nem quando parte para uma viagem mais longa, deixando a gente aqui na lembrança. Com as aves aprendemos que o céu nem é o limite. O céu é uma es...

Até pensei

Já escrevi a crônica de hoje e escrevi no busão da Cometa. Porém, agora que estou na academia, achei apropriado exercitar a conjunção entre as palavras. Academia física. Parei pra pensar um pouco e me deu vontade de escrever sobre as pessoas que falam sozinhas. No caminho que fiz até aqui pude observar umas dez dessas pessoas, que aparentemente falam sozinhas. Porém, observando mais atentamente pude notar os fones de ouvido, suspensos nas orelhas. Aqueles com fios que estão totalmente obsoletos. Lembrei-me do dia que fui assistir a uma palestra e achei o tema sensacional: A obsolescência do produto. Sensacional a sensação de termos chegado até aqui e podendo observar as mudanças. As pessoas parecem falar sozinhas, mas estão a falar com alguém do outro lado da linha. Linha que por sinal em antanho era relativa aos fios dos antigos aparelhos telefônicos. É impossível não ouvir as conversas acaloradas e ter a sensação, que todos em volta, atrás e na frente estão obrigatoriamente atentos a...

Lugares estranhos

Ao lavar o fundo de uma leiteira eu lembrei do tempo da pandemia e do lanchinho da dona Anna. Lá pelas seis da tarde o cotidiano era o Lanchinho. Um pão de hambúrguer, manteiga e uma fatia de queijo. Quando olhei para a mesa e para os dois sanduíches de queijo feitos com pão de forma integral, tive a ousadia da lembrança. Minha mãe molhava o sanduíche no leite. Ousadia da memória. A leiteira já está no escorredor e minha mãe no nosso dia a dia. Eu até achava estranho molhar o sanduíche. Meu nono molhava o pão com manteiga e meu pai rasgava o pão em pequenos pedaços, passava a manteiga e comia. Só depois desse ritual é que tomava o café com leite. Hoje, como uma espécie de celebração, molhei os dois sanduíches no café. Memória afetiva. Na escola, na hora do intervalo, gosto de usar meu copo especial que ganhei no dia dos professores com um pouco de café. Numa cesta coberta com tule, a escola oferece os pães franceses. Corto o pão no meio, na vertical e vou molhando. Espontaneamente um a...

Agradecer

Faz um tempo que a palavra Gratidão está sendo muito usada. Usada de coração. Ser grato é algo que aumenta muito a nossa própria estima e alimenta com amor a pessoa para quem a gente agradece. Começar agradecendo o nascer de mais um dia e poder se movimentar e realizar novas coisas, mesmo dentro do nosso cotidiano muitas vezes repetitivo, é algo alentador e energizante. No meio da repetição, acontecem pequenos momentos de ousadias, que desarmam a rotina. Ousadias como a de alguém que me esperou antes de fechar a porta para que eu entrasse e pudesse agradecer o gesto. Ontem depois do excelente trabalho da dentista, pelo qual agradeci, cheguei em frente ao elevador e havia uma senhora que acabara de agradecer um moço que havia descido no andar que nós estávamos. Já dentro do elevador a senhora disse que estava agradecida e eu mencionei que não havia ouvido a conversa. Ela me disse que o moço, ao sair do elevador, segurou a porta para ela entrar e emendou dizendo que ultimamente o pessoal...

Equipamentos

Pensei na palavra equipamento observando as minhas vestimentas e os vários aparelhos da academia. Quando escrevo aparelhos, logo me vem também à cabeça o aparelhamento. Precisamos, muito além da academia de ginástica, de equipamentos e aparelhamento. Descobri depois de muitas experimentações, mexendo com tomadas, fios de ferro de passar roupas, pregos e parafusos, que as ferramentas certas são muito importantes para os bons resultados. Portanto, faço uma ponte com as nossas ações cotidianas em todos os setores. A nossa língua mátria tem dessas artimanhas. Fazer pontes. Certa vez o professor nos desafiou a fazer uma ponte usando macarrão espaguete. A questão era a resistência do material. No curso de Arte o desafio, com o mesmo propósito, era que cortássemos tiras de papel de três centímetros de largura para fazermos com elas uma Malha. Quanto menor a distância entre as tiras, maior a resistência. Tamanha era a resistência que foi possível colocarmos uma placa de madeira fina sobre ela ...