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Mostrando postagens de maio, 2024

Caminhada

Fecho o portão pesado e coloco o capuz cobrindo a cabeça. Meia volta e desço a pequena escada. Estou a caminho, a pé. Observo que o meu caminhar se guia pelos meus olhos. Olhares que tateiam as pequenas coisas jogadas no chão. Essas coisas que são jogadas e mesmo aquelas que já pertencem ao chão de alguma forma, natural, ou artificialmente. Seres humanos, artífices que somos ao inventar coisas que podem ser acopladas ao chão e flutuar no espaço. Atravesso a rua mirando o meio fio pintado de branco. Essa linha horizontal segundo a minha perspectiva. E sigo, calçado e calçada. Calçada feita com mosaico de pedras brancas e pretas, formando ondas de Burle Marx. Eu piso nas brancas. Sigo uma linha que divide um piso de cimento e uma tábua usada na construção ao lado. Prossigo. Paro por causa do sinal de pedestres e avisto a calçada que inicia uma subida íngreme. Depois de atravessar, ladeio o volume de tijolos que guarda uma caixa de metal e coisas elétricas. Um papel de bala sete belo e um...

Vidro

Um pote foi deixado dentro de um pirex com água. A ideia era retirar o rótulo preso com goma, para reaproveitar o vidro depois. Ficou mergulhado na água a noite toda e o outro dia inteiro. Aproveitei a tardinha, enquanto lavava o prato, a faca, a colher e a caneca, para suavemente e com facilidade retirar o papel da embalagem de café solúvel. As mentes criativas pensam em dar outra serventia para o vidro que antes era guardador de um pozinho marrom e seco. Criativa mesmo foi a ideia de pirografar um rosto num toquinho de madeira e introduzi-lo no vidro de tampa amarela e Plástica. A sumidade da Plástica, essa ideia. Uma redoma para o toco. Acabo de me lembrar daquelas lembrancinhas feitas com garrafinhas de vidro e areia colorida, que formam paisagens desérticas feitas com pura habilidade. Outro dia fiquei sabendo que o vidro é feito com areia, não exatamente a lembrancinha, mas o Vidro mesmo. Gosto daqueles tubos de ensaio de plástico que guardam temperos. Você sabia que aqueles tubos...

Sopro

Na fotografia a moça está sorrindo como sempre. Alegre, expedita, parece sorrir mais ainda. Eu imagino a vida, tendo visto a orquídea sutil e bela que a menina me mostrou no vaso. Uma delas havia caído nesse outono. Peguei-a na mão, imaginando colocá-la numa moldura de papelão de caixa, papietada. Logo depois de imaginar essa cena, coloquei a flor caída num dos caules vivos, como se ainda pudesse sustentar-lhe a vida, esquecendo a moldura. Há onze anos eu papieto uma caixa de sapato por ano e na caixa coloco os materiais artísticos para que sejam compartilhados com alunos e professores. Pensei nessa imagem por conta da colagem de papéis, os mais diversos, que vão sendo colados -  dia a dia - por quem se interessar em fazê-lo. Tenho interesse na ideia de um papel colado levemente sobre o outro, ou mesmo muitos sendo colados uns sobre os outros. Encanta-me a ideia que mesmo que a gente não veja o papel que está embaixo, ele ainda resiste e insiste na nossa memória criativa. Ele Exist...

Vestígios

Vovô, você não é careca, você ainda tem uns cabelinhos! Essa frase voltou à minha mente ao descer as escadas rolantes do metrô. Mais um detalhe que paira sobre essa cabeça brilhante. Um brilho que biologicamente me lustra desde os antigos cabelos oleosos, dos quais me orgulho, já que não saio de casa sem lavar a cabeça desde os meus tenros tempos. Nunca mais encontrei o xampu Sete Ervas que eu adorava. O que eu realmente enncontro são os micro fios antecipados e enaltecidos pela Alicinha, justamente os que me levaram ao tema desse texto crônica. Ainda tenho um restinho, uns detalhes que norteiam as minhas ideias, cravadas sobre os cabelinhos. Crio um universo a partir do retângulo de couro da minha carteira, outro na tela branca de sessenta por quarenta, mais um no molesquini que ganhei de aniversário e por aí vai o tornar visível, aquilo que antes nem o mundo e nem eu mesmo conhecia. Esses restinhos de coisas que nos aparecem diante dos olhos nos enchem de possibilidades de manifestaç...

Doçura infantil

Doce árvore Empresta-me aquele mel escondido entre teus braços verdes Doce céu Empresta-me teu jardim com tuas contas cintilantes edeixe-me ouvir teus rastros Doce Terra Empresta-me teus córregos cheios de gotas de orvalho, irriga-me com tuas lições que habitam suas sementes Triste homem Empresta-me a tua criança Devolva-lhe a doçura Tuas contas verdes Teus pés descalços Tuas lágrimas infantis e devolva-lhe a semente para que quando ela germinar, ela possa nos emprestar teus caules verdes e eles possam nos apoiar na Velhice

Faixa

É sobre faixa etária. Muita gente já escreveu sobre a relação do Dropes Dulcora, Perdidos no espaço, Sabão Rinso, Túnel do tempo, Terra de gigantes, Mentex e outras coisinhas, com a idade avançada. Hoje podemos escrever sobre a discrepância entre o Minecraft e o Candy Crush, porém ambos são jogos que nos pedem perspicácia, planejamento e estratégia. A curiosidade é a amiga de todo esse processo e sem ela torna-se impossível a realização das tarefas com sucesso. Só esse ano aprendi o significado da palavra Prompt, qual seja incitar. Sempre ouvi e li essa palavra em trabalhos digitais, mas não compreendia o seu significado. Pensei até que seria um distanciamento meu, devido à minha faixa etária, mas não. Compreendi que é a qualidade das perguntas que fazemos para o Google, ou outras Inteligências artificiais, que são Prompts e isso requer que o nosso repertório seja mais rico. É a curiosidade que nos incita a fazer as melhores perguntas. Em alguns espaços de tempo adoro bater papo com a ...

Tempo

Como o tempo passa rápido! Essa frase dita no café da manhã, com a água no fogão esperando as bolhinhas, me pega pela mão e pelo intelecto. Ebulição de acontecimentos, um passar de manteiga no pão cacetinho, uma organização das colherinhas e dos passadores de requeijão de bambu, chegando à temperatura ideal. Dizem que o ideal é o agora, o tempo imediato. Viver um tempo futuro seria perder as possibilidades dos instantes. Pratico esse meu tempo refletindo sobre essa informação, que se torna cotidiana, com muitas pessoas, intelectuais, ou não, afirmando a importância do agora. Vem à lembrança o ser humano integral e a sua história. A Nossa história. Um passado vivido, um Agora experenciado e um futuro por viver intensamente. Holística interpretação. A Vida é esse conjunto. A água que estava represada no cano e na torneira, ela na panelinha, ela fervendo e ela na mistura com o pó de café, sem esquecermos dela passando pela nossa garganta, já na mistura homogênea, depois da filtragem. Tudo...

O Paraíso

Hoje me encontrei no Paraíso. Ninguém nos guichês da Rodoviária. O moço e a moça, os únicos funcionários da Cometa nesse instante. Acho que é o Paraíso terrestre, aginal um senhor e um casal chegaram pelo outro lado e eu ofereci o meu lugar. Fui abençoado pelo vazio dos guichês e resolvo compartilhar a bênção. Um minuto depois do gesto, apareceram duas outras funcionárias e uma delas me chamou para o atendimento. Comprei a passagem para o ônibus das Quinze horas. Cá estou sentado no banco de plástico entre tantos outros. Cheguei todo entusiasmado na plataforma três, com o ônibus já estacionado. O moço que guarda as bagagens gritou: Esse é o das Quatorze e trinta, o das Quinze ainda vai estacionar! São Quatorze e cinquenta e sete. Quem me conhece sabe que eu sou o Senhor entusiasmo e dificilmente vou mudar, mas não respondo mais a enquete: Como foi viajar com a Cometa. Enquete que chegará amanhã na minha caixa de e-mails. Agora, os privilegiados são vocês, afinal apareceu um novo funcio...

Antecipação

Aqui pensando em Antecipação. Coisa de ser ansioso. Nem precisava o doutor no Instagram dizer, mas disse: Normalmente a ansiedade faz o ansioso antecipar acontecimentos. Nada aconteceu ainda e estou a antecipar catástrofes. Justo eu que sou abençoado por acontecimentos sensacionais, maravilhosos e cheios de alegria. Sei que em algum momento futuro próximo terei que encarar um pequeno desafio e aquilo cresce em tamanho e proporção, me levando na imaginação por cenas negativas e cheias de aflição. Nada que me fuja do controle, mas é triste. Sempre penso nas pessoas que não conseguem controlar. Minha sábia mãe teve o poder de me indicar a divina providência, que ela dizia que pegava com a mão, da forma tão clara que ela a via e por ela era tocada. Dona Anna, minha mãe, também me ensinou e eu passo adiante, que todas as proparóxitonas têm acento, porque depois da sílaba tônica, têm duas sílabas fracas. Mé di co Lú di co Enfim, esse antecipar não é ter uma bola de cristal, um baralho, linha...