Vestígios

Vovô, você não é careca, você ainda tem uns cabelinhos!
Essa frase voltou à minha mente ao descer as escadas rolantes do metrô.
Mais um detalhe que paira sobre essa cabeça brilhante.
Um brilho que biologicamente me lustra desde os antigos cabelos oleosos, dos quais me orgulho, já que não saio de casa sem lavar a cabeça desde os meus tenros tempos.
Nunca mais encontrei o xampu Sete Ervas que eu adorava.
O que eu realmente enncontro são os micro fios antecipados e enaltecidos pela Alicinha, justamente os que me levaram ao tema desse texto crônica.
Ainda tenho um restinho, uns detalhes que norteiam as minhas ideias, cravadas sobre os cabelinhos.
Crio um universo a partir do retângulo de couro da minha carteira, outro na tela branca de sessenta por quarenta, mais um no molesquini que ganhei de aniversário e por aí vai o tornar visível, aquilo que antes nem o mundo e nem eu mesmo conhecia.
Esses restinhos de coisas que nos aparecem diante dos olhos nos enchem de possibilidades de manifestações da nossa sensibilidade, através do nosso corpo e das nossas mãos.
Somos sensíveis aos detalhes que todas as coisas - naturais e artificiais - nos mostram escancaradamente.
O escancarar é tarefa nossa, já que uma cadeira é apenas um objeto criado para nós sentarmos, ou é escancaradamente aquela Espera.
É a nossa visão transcendental, ora almática, ora espiritual, que impulsiona as nossas ideias inovadoras.
E hoje, a inovação se apresenta no momento que a manifestação é propagada e publicada, pois me parece que a nossa memória tornou-se muito curta e tudo o que nos apresentam nesse instante nos parece novo.
Memória que apaga o anteriormente aprendido e compreendido.
Repare que comecei o texto na primeira pessoa e fui colocando o nosso coletivo na pauta.
Afinal, somos nós que nos entusiasmamos com os restinhos de todas as coisas.
O periquito na série de TV estava na gaiola e a informação era que a sua dona tinha feito as malas e deixado a cidade.
O detalhe percebido pelo detetive Monk foi fundamental para que ele a encontrasse assassinada.
Como ela iria mudar de cidade sem levar o estimado periquito?
Apenas com perguntas vamos ter revolução.
Apenas com perguntas vamos ter evolução.
Seja como for, qual a pergunta que estamos fazendo agora à capinha do nosso celular?
Será que a transparente com bordas resistentes é melhor e mais bonita do que aquela com o ursinho felpudo?
Seja qual for a resposta a inovação já aconteceu e a lojinha do terminal nos levará a mais viagens e questionamentos

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