Identidade

Depois do café da manhã a gente começa a conversar sobre o fazer artístico.
Meu amigo irmão acabara de me mandar uma postagem falando que em 1969 o Salvador Dali foi instigado a criar a Logo do pirulito Chupa Chups.
Salvador pegou um guardanapo e em menos de um minuto esboçou a Logo que é usada até hoje.
A única exigência do artista era que a Imagem fosse colocada sempre em cima, para que ao embalar o pirulito esférico, ela ficasse sempre Visível para o consumidor.
A princípio o que mais impressionou a todos foi a rapidez da criação do artista.
Sobre isso tenho uma história que me impressionou para sempre.
Um poderoso empresário tinha no seu escritório uma parede gigante e sem nenhum objeto atrás da sua cadeira.
Chamou um Artista para fazer um quadro para decorar a sua parede vazia.
No dia combinado o Artista chegou no escritório levando uma tela grande e branca.
Posicionou a tela no cavalete e em poucos segundos aplicou-lhe no centro uma mancha preta, diluída com óleo de linhaça.
E disse ao empresário:
Terminei.
O empresário aprovou e perguntou qual era o preço da Obra.
O Artista respondeu que o preço era quinhentos mil euros.
O empresário exclamou:
Caramba, mas você demorou apenas alguns segundos pra fazê-la.
O Artista respondeu:
Alguns segundos não.
Eu demorei a minha Vida inteira.
O acúmulo de experiências, tentativas, erros e acertos, que vão se acumulando para compreendermos os vários códigos e significâncias que nos transpassam todos os dias, meses e anos.
O aprendizado feito de observações e experiências táteis, auditivas, visuais, olfativas e paladarianas, que nos possibilitam as mais variadas criações.
Não se cria do nada.
Quando a possibilidade de criação aparece a gente reúne as mais variadas memórias relativas ao tema e impomos a nossa essência e a nossa técnica para desenvolvermos o produto.
Sim.
O produto é resultado do processo.
A vida é resultado de processos. Alguns escolhem programá-los e outros preferem os Intuitivos.
Para esses o processo intuitivo lhes parece mais espontâneo.
Remar é uma figura de linguagem apropriada para o caminhar sobre as águas mansas, ou selvagens do nosso oceano Djavanisíaco.
Remando seguimos em frente retirando d'água os remos, levando-os para frente, colocando-os novamente na água e puxando-os para trás a fim de darmos impulso à nossa jornada.
Jornada tão difícil quanto uma maioria de pessoas compreender a intenção do Matisse ao dizer para as duas senhoras incrédulas que viram a sua Mulher Verde, que aquilo não era uma mulher.
Era uma Pintura.
Já Picasso diria que se as senhoras não entendessem facilmente essa frase, seria impossível que elas entendessem.
Já Paul Klee, que compreendeu claramente a frase do Matisse, diria que os artistas não representam o Visível, eles Tornam visível.
Enfim, seguimos vivendo os imponderáveis e os ponderáveis nessa trilha remadora de angústias e felicidades.
Quem tem ouvidos para ouvir, leia

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