Cronograma
Fui escrever o título desse texto e digitei Cronos.
Saiba que se você digitar Cronos a inteligência artificial escreverá Cronograma.
Tudo bem.
Percebo que quando a gente vai fazer uma agenda a gente acaba cronometrando, ou cronogrameando.
Adoro neologismos, mas como criar uma palavra para falar sobre um ato de gratidão?
Hoje pela manhã recebo uma embalagem bonita e um recado para que abrisse o regalo em casa.
Regalia minha.
O moço mais que bem educado, desde sempre quis me agradecer com um presente.
Pensei que eu faço o bem sem olhar a quem e sem esperar nada em troca.
Porém, repare.
A gente sempre desce as escadas do colégio com muitos outros professores.
Naquele dia calhou de descermos apenas eu e ele.
Parecia não ter mais ninguém na escola.
Ele, em segundos, me contou alguma coisa e eu poderia fazer algo para ajudar com certeza.
Com absoluta certeza.
E assim foi e assim está sendo.
Ele já está desenvolvendo seu ofício com maestria, ocupado num outro canto, em mais dois dias da semana.
Eu sabia que não adiantaria nada falar que ele não precisava se incomodar com nada, mas ele insistiu.
Acabei de colar na minha caixa especial o pequeno bilhete de agradecimento.
Ali ele me alerta que eu sou um adversário de Cronos.
Exatamente hoje seis alunos me perguntaram sobre a minha idade cronológica.
Sessenta e seis anos desde Curitiba.
Quinze dias com mamãe e seu leite e depois dois meses com minha tia e a mamadeira sem furos.
Oeste não desceu por um dia e meio até minha tia fazer a observação para as suas professoras da USP, que perguntaram:
Você furou o bico?
Adversário de Cronos e amigo ao mesmo tempo, afinal para mim não é só a noite que é uma criança.
A regalia é uma coletânea de crônicas de grandes autores.
Uma relíquia.
A amizade em mim tem uma coisa essencial, interior, que é o cerne da questão.
Basta olhar e perceber que ao meu lado está caminhando uma pessoa que estende as mãos para tantos outros.
Estende a mão no único compromisso de fazer o outro um tanto mais feliz.
Aquele momento do Rubem Alves.
Um instante onde a alegria não fixa residência, ela já construiu a própria casa.
Casa própria que possui vários cômodos para acomodar muita gente.
Às vezes não é cômodo, mas é imperativo que façamos alguma coisa.
O moço não precisava me presentear com um objeto lírico, mas me presenteou.
Já estava presente na escadaria e agora sela o seu Estar com as palavras dos Sabiás.
Esse é o título da Obra que nos transporta até o canto belo do belíssimo pássaro cantante.
Eu canto daqui em celebração.
Celebro a Bondade do coração que jamais será a mesma depois dos versos do Chico Cesar.
Ele já desenhou pra gente que sempre nos protegemos ou queremos nos proteger de nós mesmos, da bondade da pessoa ruim e da maldade de gente boa.
Isso a gente já sabia.
Todos temos problemas bilaterais, mas pendemos para a Graça.
Que bondade a sua de ser grato e me engrandecer na virtude.
Somos adversários do tempo, esse ente muito usado por alguns para nos escravizar.
Escravos nos colocamos a serviço, na tentativa de uma libertação improvável, mas que na utopia das nossas crenças nos encontra caminhando.
O viver nesse mundo pode ser rude e cruel.
A nossa presença ativa e poética, romanceia porque queremos que seja assim.
Romântica.
Acho mais bonito.
O Artista é uma pessoa e mais uma é uma multidão.
Para o Artista, achar bonito é quase suficiente.
É bonito, é bonito e é bonito
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