Espelho
Órfão de série.
Existe essa expressão contemporânea.
This is us, foi uma dessas séries.
Lá pelas tantas aparece um personagem indiano, com sua mulher e filhos pequenos.
Fiquei me perguntando:
Uai, de onde vieram esses?
O que eles estão fazendo nesse capítulo da série?
Nesse episódio a Rebecca, Mãe protagonista está mais velha e recebe mensagens com fotografias dos filhos e netos pelo celular.
Eles querem colocar a mãe e a avó a par dos acontecimentos recentes.
É aí que o aparecer do personagem indiano tornou-se muito importante, de forma que, volta e meia, me recordo desse momento.
O personagem era Narinder Singh Kapany, o cientista indiano que foi o pensador capaz de enviar imagens por fibra Óptica.
Acabo de receber de um amigo que está participando de um evento chamado Hamburgada do Bem, uma foto de um sujeito vestindo um boné.
Ele está olhando o celular, usando calça jeans e camiseta, numa posição que sou eu Esculpido em Carrara.
Sim, é desse jeito que se usa a expressão que eu e a maioria dos brasileiros julgava ser: Cuspido e escarrado.
Ah, esse sujeito é o Betu, Cuspido e escarrado!
Tratando de alguém que é muito parecido com o outro.
Nesse caso, o correto é como se eu fosse esculpido em Mármore de Carrara, tamanha a perfeição da semelhança.
O fato é que fiquei pensando se a perceptiva da visão do meu amigo tivesse acontecido nos anos oitenta.
Só amanhã ele estaria me relatando o fato, tendo que usar muitas palavras de forma a tentar me explicar que o cara era a minha cara.
Essa rapidez e fluência da informação visual através da foto, fez com que eu, que estava imaginando até ficar de olhos fechados descansando na poltrona do Cometão, fosse impulsionado a escrever esse texto.
De alguma forma é confortante saber que a Teia, a Web, ou a Rede, podem ser um veículo de demonstração de afeto e de poder criativo.
A Lembrança que se transforma em mensagem, transmitida do celular do amigo que com dois cliques está estampada na tela do meu aparelho.
Isso desloca o meu pensamento no sentido da reflexão sobre o tempo.
Sempre ele, o tempo.
Transporto-me novamente para os anos oitenta, no período anterior a alta tecnologia da informação.
Para montar um texto com imagens numa página para jornal a gente usava cola benzina, letras Decadry, uma por uma aplicada no papel base.
Depois da página diagramada no visual, o trabalho ia para o fotolito, depois era gravado fotograficamente numa chapa emulsionada e depois ia para a impressão.
Com isso eu quero dizer que tínhamos que inventar à partir dos recursos que havia na época e a gente hoje diz que era tudo na Raça.
Hoje em duas redes Fast Food de hambúrgueres oa atendentes são substituídos por telas de autoatendimento.
Alguns atendentes inventarão alguma forma de serem alocados usando tecnologia avançada.
Vou insistir que desde o aparecimento dos Sapiens, os senhores do conhecimento, sempre houve e haverá tecnologia.
A técnica de produzirmos ponta de lança com pedras lascadas, por exemplo.
A tecnologia do fogo derretendo metais encontrados nas rochas, outro exemplo.
O pensador genial que pensou a roda como mecanismo de maior velocidade de movimento com menor esforço.
Hoje a gente pensa que existe na contemporaneidade a Lei do Mínimo Esforço.
Pode até ser verdade, mas isso me interessa menos.
Nesse celular onde estou digitando esse texto, eu tenho três aplicativos que me ajudam a criar imagens e textos.
Tenho uma predileção por criar figurinhas temáticas para Mensagens que serão mandadas pelo WhatsApp.
Printo, tenho, ou faço uma foto e edito com o próprio editor da câmera.
Retiro o fundo com o app Background eraser.
Clico no app Sticker Maker, enquadro, corto, acrescento texto e emojis quando necessário.
Salvo em Minhas Figurinhas no arsenal do WhatsApp.
Pronto.
Claro que tudo isso é possível fazer direto pela Inteligência artificial, mas ela vai usar referências de outras pessoas que não sou eu.
Eu ainda espero ter algum controle e capacidade para dar os prompts necessários, já que sou controlador por natureza.
Enfim, para cada tempo uma tecnologia.
Dentro de cada tempo, as tecnologias produzidas são produzidas por humanos, dentro tempo no qual eles ainda circulam.
Portanto, sempre são tecnologias avançadas no seu tempo.
Ainda não creio em viagens temporais que não sejam, ou aconteçam, da forma que estamos fazendo aqui, através de palavras ditas, ou escritas.
A fotografia cristalizou, estancou o tempo no momento exato que outro sujeito se tornou Eu.
Sou eu, é ele, somos nós que temos o privilégio de envelhecemos com calças jeans e camisetas simples.
A estampa pode ser do Black Sabbath, do Yes, do Clube da esquina, ou da Rita.
Eu tenho sobre a mesa redonda do apartamento em Sorocaba, uma caneta para tecido preta e as costas de uma camiseta da Eletiva de Desenho que foi manchada por marca texto fluorescente.
Já deixei riscado um círculo que cobre toda a mancha e vou desenhar no espaço interno.
A mancha estará sempre ali, mas agora o que se tornará visível é aquilo que, com tecnologia manual eu apresentarei a vários Outros.
Eu não represento o visível, eu torno visível, nos disse Paul Klee.
Obrigado pela lembrança meu amigo
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