Pé de vento
Depois de algum tempo vesti uma blusa de malha fina.
Um friozinho.
Blusa de malha bonita e bermuda.
Meia soquete cinza e meu tênis Mizuno com um cadarço não original.
Preciso de um cadarço maior para fazer um entrelace da hora.
Nunca refleti sobre essa gíria:
Da hora.
Sendo uma coisa boa, bonita, deve significar que a hora é essa, a hora exata para a coisa acontecer e ficar interessante.
Hora de pensar na boniteza do laço, da trança e talvez da relação entre a cor do tênis e a do cadarço.
Uma vez ouvi cadalço.
Soou-me como calda, uma caldaça como a daqueles pêssegos em lata.
Dona Anna pingava creme de leite em cima.
Uma delícia.
Lembrei-me do sítio urbano onde a minha mãe ensacava com saquinhos de pipoca os pêssegos do único pessegueiro do jardim.
Não adiantava nada.
Os passarinhos devoravam todos, antes que eles amadurecessem.
A goiabeira que fica na calçada do colégio também é assaltada pelos pássaros e o piso fica feito geleia.
A Regina Casé apresenta um programa chamado Pé de quê?
Quando a gente assiste fica sabendo sobre curiosidades do pé de jaca, pé de limão, pé de goiaba e ali, de vez em quando, sai até
algum pé de moleque.
Pé de cachimbo só quando eu era criança, afinal o professor me ensinou que o domingo para o inglês, pede cachimbo.
E o Man fica ali, só na tranquilidade, detonando os pulmões.
Peço a Deus um pouco de malandragem, já que a minha ingenuidade me inquieta.
Sempre adorei andar a pé, porém calçado.
Acho graça andar na esteira.
Para amenizar o desconforto visual o povo coloca um vídeo bem na frente, com imagens, para dar a impressão que estou andando na cordilheira dos Andes, na floresta amazônica, ou no caminho de São Tiago.
Andar sem sair do lugar, mas com os números digitais me informando quantos quilômetros andei, qual a minha pulsação e quanto tempo estou a andar no mesmo espaço retangular
Ando pensando que prender a imaginação é como prender a respiração.
A gente aguenta no máximo dois minutos, depois temos que soltar o ar de forma libertária.
Hoje me parece que o mais importante está no fazer, realizar, tornar real para o prazer dos outros e por conta disso, para o nosso próprio deleite.
Falo isso numa sociedade mega ultra capitalista e falo exatamente por discordância, vivendo com muita simplicidade.
Não preciso de nada Muito.
O povo continua dando nomes em inglês para as tendências e um deles é a tal Cultura Maker.
Sim, a cultura do fazer, do por a mão na massa, do fazer acontecer.
Arthur Bispo do Rosário pegava tudo o que encontrava no manicômio onde vivia e transformava em objetos artísticos.
É muito bom de ver e de descobrir.
Ele acreditava que tudo o que ele fazia era Deus que pedia.
Ao morrer puseram-no na cama que ele construiu e vestiram-lhe o manto que ele criou especialmente para o dia.
Ele partiu.
Suas Obras, suas criações, seus fazeres não.
Dizem que um ser humano deve plantar uma árvore.
Uma árvore é um pé de alguma coisa.
Nossos pés estão na estrada.
Esse nosso rio dá pé.
Mergulhamos de cabeça e vamos remando com braçadas firmes.
Pé de vento.
Meu pai um dia me perguntou se eh já tinha ouvido em Sorocaba alguém dizer a expressão:
Olha que vento fria.
Eu respondi que nunca, mas depois de muitos anos um porteiro de escola me afirmou que naquele dia o vento estava fria.
Lembrei da família Buscapé e isso me leva ao interior.
Está friozinho.
Nada de bater o queixo.
Onde tenho mais frio é nos pés.
Pede meias
Um friozinho.
Blusa de malha bonita e bermuda.
Meia soquete cinza e meu tênis Mizuno com um cadarço não original.
Preciso de um cadarço maior para fazer um entrelace da hora.
Nunca refleti sobre essa gíria:
Da hora.
Sendo uma coisa boa, bonita, deve significar que a hora é essa, a hora exata para a coisa acontecer e ficar interessante.
Hora de pensar na boniteza do laço, da trança e talvez da relação entre a cor do tênis e a do cadarço.
Uma vez ouvi cadalço.
Soou-me como calda, uma caldaça como a daqueles pêssegos em lata.
Dona Anna pingava creme de leite em cima.
Uma delícia.
Lembrei-me do sítio urbano onde a minha mãe ensacava com saquinhos de pipoca os pêssegos do único pessegueiro do jardim.
Não adiantava nada.
Os passarinhos devoravam todos, antes que eles amadurecessem.
A goiabeira que fica na calçada do colégio também é assaltada pelos pássaros e o piso fica feito geleia.
A Regina Casé apresenta um programa chamado Pé de quê?
Quando a gente assiste fica sabendo sobre curiosidades do pé de jaca, pé de limão, pé de goiaba e ali, de vez em quando, sai até
algum pé de moleque.
Pé de cachimbo só quando eu era criança, afinal o professor me ensinou que o domingo para o inglês, pede cachimbo.
E o Man fica ali, só na tranquilidade, detonando os pulmões.
Peço a Deus um pouco de malandragem, já que a minha ingenuidade me inquieta.
Sempre adorei andar a pé, porém calçado.
Acho graça andar na esteira.
Para amenizar o desconforto visual o povo coloca um vídeo bem na frente, com imagens, para dar a impressão que estou andando na cordilheira dos Andes, na floresta amazônica, ou no caminho de São Tiago.
Andar sem sair do lugar, mas com os números digitais me informando quantos quilômetros andei, qual a minha pulsação e quanto tempo estou a andar no mesmo espaço retangular
Ando pensando que prender a imaginação é como prender a respiração.
A gente aguenta no máximo dois minutos, depois temos que soltar o ar de forma libertária.
Hoje me parece que o mais importante está no fazer, realizar, tornar real para o prazer dos outros e por conta disso, para o nosso próprio deleite.
Falo isso numa sociedade mega ultra capitalista e falo exatamente por discordância, vivendo com muita simplicidade.
Não preciso de nada Muito.
O povo continua dando nomes em inglês para as tendências e um deles é a tal Cultura Maker.
Sim, a cultura do fazer, do por a mão na massa, do fazer acontecer.
Arthur Bispo do Rosário pegava tudo o que encontrava no manicômio onde vivia e transformava em objetos artísticos.
É muito bom de ver e de descobrir.
Ele acreditava que tudo o que ele fazia era Deus que pedia.
Ao morrer puseram-no na cama que ele construiu e vestiram-lhe o manto que ele criou especialmente para o dia.
Ele partiu.
Suas Obras, suas criações, seus fazeres não.
Dizem que um ser humano deve plantar uma árvore.
Uma árvore é um pé de alguma coisa.
Nossos pés estão na estrada.
Esse nosso rio dá pé.
Mergulhamos de cabeça e vamos remando com braçadas firmes.
Pé de vento.
Meu pai um dia me perguntou se eh já tinha ouvido em Sorocaba alguém dizer a expressão:
Olha que vento fria.
Eu respondi que nunca, mas depois de muitos anos um porteiro de escola me afirmou que naquele dia o vento estava fria.
Lembrei da família Buscapé e isso me leva ao interior.
Está friozinho.
Nada de bater o queixo.
Onde tenho mais frio é nos pés.
Pede meias
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