Retorno sem acasos
Parece um outro mundo novo.
No ano passado deixei os encontros nas salas de aula andando por ensinos e aprendizados, almoços no restaurante da escola, cafés da manhã na mesa redonda da sala e outras atividades rotineiras.
Rotina passada.
Um ano novo de mercadinho, almoços em casa e outros restaurantes, manteiga, requeijão, tomates, batatas, presentes, panetones e chocotones.
Um novo de outro elevador, outro tapete interno e outros botões para abrir e fechar as duas portas de acesso ao prédio.
Ainda no velho, depois do terceiro chocotone, não pus nenhum chocolate na boca.
Sem qualquer doce desde então.
Esse então foi o resultado do exame glicêmico que não acusou diabetes, mas sinalizou para a Pré.
Ontem realizei minha estratégia.
Fui em jejum até a farmácia onde costumamos comprar os remédios mensais e fiz o exame de glicemia.
Resultado, Noventa.
Sensacional.
Fiz esse exame de tanto medo que o doutor me desse uma sonora bronca amanhã, na consulta de rotina.
Com certeza o que me falta são exercícios de puxar uns ferros, porque andar eu adoro, mas nem isso estou fazendo.
Vou me matricular numa academia nesse novo ano, onde as minhas afirmações são ainda mais positivas.
Desde o ano velho que venho recebendo através do Instagram mensagens sobre uma sequência de exercícios usando apenas uma cadeira e sete minutos diários.
O velhinho que aparece na propaganda tem uma barba longa e o corpo sarado.
Sarado eu estou do descontrole da glicemia, então só fico me imaginando sem essa barriga de farináceos, já que esse programa de exercícios na cadeira visa me deixar com o abdômen desenhado.
Eu prefiro desenhar sobre papéis, ou telas, mas estou realmente empenhado em me redesenhar.
Não que eu esteja triste comigo, mas com certeza quero dar uma melhorada no capô.
Mesmo que eu me considere um gato, acho que esse meu heterônimo está mais pra caçando esqueletos de peixe num beco deserto.
Enfim.
Vejo-me no trem do metrô nesse ano diferente.
Nesse retorno encontro no trem um menininho no colo do pai com o rostinho encostado no ombro paterno.
Ele tem o rosto triste e cansado.
O pai pede por alguma ajuda andando no trem, de um lado para outro.
Incrível como nesses novos tempos de um novo ano eu não ando mais com dinheiro.
O dono de uma padaria famosa me disse há muito tempo que em alguns anos a gente só usaria dinheiro de plástico.
Chegamos.
Fico pensando que com o avanço da tecnologia da informática nem essa pequena ajuda para um pai necessitado está sendo possível.
Claro que no mesmo trem ouvi um dueto de violão e violino, dois rapazes e uma caixinha de som.
Depois de duas músicas muito bem executadas o moço do chapéu mostrou no peito uma plaqueta com um enorme código de barras.
Pude apontar minha câmera do celular para o QRcode e contribuir com cinco reais no pix.
Aproveitei e até salvei a dupla como contato e já fui puxando um papo rápido.
Ele me disse que de vez em quando vão tocar no metrô do Rio e lá o QRcode é de quinze reais.
Será que as pessoas com muita necessidade vão começar a andar com QRcodes no peito?
Num primeiro momento me pareceu constrangedor, mas parece não haver outro jeito.
Nesse ano novo quem anda com dinheiro na carteira?
Ainda não tenho a manha de ter um cartão virtual no celular e isso me parece com aquela história de preferir ler um livro de papel ao invés de um e-book, ou seja, prefiro o cartão físico ao cartão digital.
Gosto de tê-lo na mão.
Coisa de ano velho.
Retorno com a energia de sempre procurando aprender bastante.
Na semana passada um amigo me ligou pedindo um conselho e louvando a minha experiência.
Ofereci a ele e ele escolheu o que era melhor para a sua família, ficando perto dela.
A preocupação dele é semelhante à minha, afinal ambos temos o gosto pelo respeito e ocupação com aquilo que é bom para o outro também.
Ganhou o equilíbrio.
Equilíbrio sempre me soa como bom senso, mas quando a gente sabe que o dinheiro é o Senhor de todas as coisas mundanas, seja em que ano for, velho, ou novo, ficamos um pouco aflitos e apreensivos.
Existe uma placa de um escritório de advocacia numa avenida de Votorantim onde a Balança da Justiça está pensa para um dos lados.
Que equilíbrio é Esse?
Quando vi, fiquei com aquela mistura de incredulidade e riso.
Se o Senhor de todas as coisas desse mundo é o dinheiro, eu prefiro o Bom Humor
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