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Hoje é um dia diferente na rodoviária.
Há uma fila imensa no guichê de passagens que me fez refletir sobre o início do mês de dezembro.
Festas, férias, comemorações e confraternizações.
Ao ver a fila tão grande tive a ideia de comprar as duas passagens no guichê especial da Catarinense.
Já sabia que ali a fila é sempre pequena, mas o tempo de espera é de cento e vinte e três horas, afinal é lugar para idosos como eu, mas diferente de mim as pessoas vão comprar passagens para a Nova Zelândia daqui há três meses, no mínimo e ainda onde eu escrevi Comprar, leia-se Ganhar as passagens preferenciais.
Fui surpreendido ali mesmo pela existência de um pequeno espaço com telas de computadores de compra automática de passagens.
Já tenho essa experiência na rodoviária de Sorocaba e pensei: Agora eu, como o The Flash, comprarei as nossas passagens voando.
Chegamos no local às nove e cinquenta.
Agilizei meus dedos na tela do computador para comprar duas passagens no ônibus das dez.
Qual nada.
Não tinha.
Estavam esgotadas.
Eu comecei a ficar Esgotado.
Pacientei-me e cliquei no das dez e trinta e havia duas poltronas vagas.
Rapidamente quis comprar as duas ao mesmo tempo.
Não dá.
Impossível, afinal tenho que colocar Destino, Nome e CPF e clicar na palavra Próximo a cada item.
Mesmo sabendo do risco comprei uma no meu nome e quando fui comprar a outra já não havia mais.
Compraram a última das dez e trinta.
Fiquei com a passagem solitária na mão.
Chamei Sandrinha e fomos ao guichê oficial.
Na fila de idosos havia apenas um casal jovem terminando de comprar suas passagens.
Fui atendido por uma moça simpática e atenciosa que trocou a minha passagem das dez e trinta por outra das onze horas.
Além disso me vendeu a da Sandrinha.
Ônibus praticamente lotado e não conseguimos assentos colados.
Não conseguimos entre muitas áspas, afinal a moça atendente e eu, vimos na tela que vários assentos do fundo estavam marcados com um X.
Rapidamente ela me confidenciou: Ela senta na trinta e três e o senhor na trinta e quatro.
A trinta e quatro estava marcada com um X.
Antigamente pensava que os assentos com X pertenciam a pessoas que vinham de Santo André, porque já vi escrito no Ônibus: Sorocaba via Santo André.
Hoje tive a certeza que eu estive errado esse tempo todo, mas quando eu descobrir a verdade eu conto pra você.
Inclusive meus irmãos quase desmarcaram o almoço do Encontro por causa da chuva que deve estar marcada para Sorocaba.
Marcada no Google Tempo.
Aqui na marginal de São Paulo o céu está nublado.
Penso se todas as minhas coisas digitais estão na Nuvem e que não tenho o menor controle sobre isso, inclusive por desconhecimento e ignorância.
Enquanto descíamos a escada rolante dois motoristas desciam atrás da gente.
Um deles falava alto e aos palavrões selecionava os motoristas dos ônibus que podiam os levar de carona.
Apontando o dedo para os ônibus ele dúzia alto: Esse Piiiiiiii não leva de jeito nenhum.
Agora esse é da hora, a gente vai com ele.
A minha reflexão é sempre essa:
Nosso país é mesmo o país do jeitinho e eu adoro a história que o Suassuna conta sobre o amigo dele que foi morar na Suíça.
Não vou contar a história aqui porque somos todos modernos e vamos todos - num clique - procurar no YouTube depois de ler esse texto.
Só não gosto de palavrões, não acho bonito, mas do jeitinho, hummmmm...
Claro que o jeitinho não deve prejudicar Outrem e afinal se o Outrem adere ao jeitinho todos estão bem, sendo responsáveis pelas consequências do jeitinho.
Entram mais quatro pessoas no nosso ônibus das onze e ainda estamos em Osasco, o que significa que vão assentar-se nos assentos X.
Em busca do X da questão eu vou escrevendo palavras soltas em busca de um sentido que vá além do sentido São Paulo - Sorocaba.
Meu sentimento é de esperança e anseio pelo abraço da família.
Hoje a gente sente que o afeto, o carinho, as passagens de ônibus e as partidas de futebol jogam a nosso favor e o melhor sentido é para frente.
Se faz sentir, faz sentido
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