Faz de conta?
Faz de conta que eu estou no metrô indo para a rodoviária.
Não estou, mas você sabe o que significa aquela vontade que dá de escrever por linhas tortas aquilo que me parece certo.
É como se estivesse indo para a rodoviária, afinal no domingo passado estava escrevendo sobre uns painéis que encontrei dentro das estações e o texto andava ligeiro.
Comprei a passagem para um ônibus que já estava quase partindo.
Desci correndo.
Com o texto celular na mão me sentei na poltrona do corredor e logo um moço de cinquenta e três anos pediu licença para sentar-se à janela.
Eu sempre coloco o cinto antes da pessoa dona da cadeira ao lado pedir assento.
Isso prejudica a passagem do outro, mas sempre cometo esse erro, tendo que me retorcer todo para o outro conseguir passar.
O fato de eu já ter escrito que ele tem cinquenta e três anos já denota que ficamos conversando a viagem inteira, conectando ideias às ações cotidianas.
E o texto ali, na minha mão e no aplicativo do celular.
O moço é técnico em eletrônica e já trabalhou em quase todos os estados brasileiros, no Paraguai com a divisa da Argentina e agora cuida da mãe.
Ele é o mais novo e tem mais duas irmãs professoras.
Foi escolhido para cuidar da mãe porque é o que vai demorar mais para se aposentar.
Em março do próximo ano a irmã mais velha se aposenta e ele volta a trabalhar naquilo que mais gosta de fazer.
Muito inteligente, ele me apresentou os trabalhos de elétrica que desenvolveu para os alunos de física da irmã que ministra aulas na escola pública.
Falou sobre educação e política com sabedoria e bom senso e isso por si só me agrada por demais.
Nos despedimos no Terminal São Paulo e quando olhei para o celular o texto não estava mais lá.
Sobrou apenas o último parágrafo.
Volto a mencionar que a ideia do texto apareceu quando me deparei com painéis onde estavam colocadas palavras impressas na cor branca e uma das palavras da frase era excluída com uma linha horizontal também branca.
No primeiro painel estava escrito: A gente vai se falando e a palavra excluída era o verbo.
Na minha pressa desnecessária passei pelo segundo painel e vi apenas que a palavra excluída era substituída por outra.
No caso o que consegui observar foi ,Vera.
Vou comunicar a você uma teoria nada comprovada cientificamente, sobre o motivo de ao invés de parar em frente do painel e tirar uma foto para poder dissertar, escolhi sair correndo.
A teoria é usar mais a imaginação do que a certeza factual.
Bobagem, afinal a primeira coisa que fiz ao me sentar no trem foi procurar imagens sobre a campanha publicitária da Uber no metrô de SP.
Sim, Uber foi a outra coisa que consegui observar além da: vírgula Vera.
Escrevo agora como se estivesse na rodoviária e agora já existem no Google as informações sobre a campanha.
Segundo o texto os paineis visam ressaltar a conexão entre as pessoas e se autodenomina Marcar de Marcar, destacando expressões populares dos brasileiros.
Somos brasileiros e usamos desculpas para não nos encontramos.
Na semana passada enquanto eu escrevia, ainda não havia essa informação no Google.
Agora fica mais claro o significado de: A gente vai se falando, com o verbo excluído.
Agora é possível usarmos ainda mais a imaginação para completar a frase:
A gente vai se...
A gente vai se...não tivermos preguiça.
Rio.
Percebo agora o significado mágico do desaparecimento do texto no domingo passado.
De alguma maneira Marquei de Marcar para hoje esse texto para garantirmos a nossa conexão.
Na semana passada o mais importante era conversar por duas horas com o moço simples, de inteligência rara, que me aproximou de conexões internas, que me impulsionaram a suavizar o meu próprio caminho.
Caminho para a rodoviária de Sorocaba sempre usando a Uber e o motorista que me levou nessa semana me contou que teve o prejuízo de cinquenta reais porque o pneu do carro furou.
O empreendedorismo tem dessas coisas, me disse o moço inteligente da eletrônica:
Nenhum direito trabalhista e a gente não percebe tudo o que vai sendo desvalorizado no meio do caminho.
Estamos todos em conexão, precisando marcar um encontro, muito além das nuvens
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