A cabeça celular
Eu ia começar escrevendo sobre o meu celular.
Aquele que eu nunca guardo no bolso de trás das calças.
E não é que ao entrar no trem do metrô, dou de cara com uma moça fazendo a própria maquiagem?
Escrevo, não porque isso é uma coisa non sense, mas porque quando eu estava no trem, chegando em São Paulo, uma moça muito parecida com essa, passou a viagem inteira se maquinando.
Coisa de profissa.
Dois estojos gigantes com mil e um produtos de beleza entre pós, cremes, lápis e outros tantos.
A parte mais lúdica aconteceu quando ela retirou a caixa circular de pó de arroz.
Rio aos montes porque nem sei se aquilo ainda se chama Pó de arroz.
Enfim, no momento em que ela abriu o potinho circular, o pó voou pelos quatro cantos do vagão.
Eu estava em pé e senti a baforada, já os passageiros que estavam sentados perto dela mexeram as sobrancelhas em todos os sentidos possíveis e ela desesperadamente abanava o pó com as duas mãos.
Escrevi a palavra desesperadamente, mas qual nada, eu nunca vi uma pessoa mais tranquila.
Sem se preocupar com as sobrancelhas dos outros ela seguiu seu ritual, tendo começado com um creme um pouco mais escuro que a sua própria pele, fazendo com o dedo três linhas num lado do rosto e três no outro.
Claro que ela não queria fazer uma pintura indígena no rosto, então pôs-se a fazer um movimento giratório para espalhar bem o creme.
Antes que eu descesse na minha estação ela estava passando o lápis preto para esticar a linha superior dos olhos, o pó foi colocado nos entremeios do processo.
A moça desse trem atual já estava delineando os olhos, portanto imagino que estava no fim do ritual de beleza.
Como eu já mencionei, eu desejava e ainda desejo escrever sobre o fato de eu não usar meu celular no bolso de trás, mas não será possível agora, afinal acabei de deixar o guichê de passagens da Cometa.
Rio ainda mais, afinal sempre há uma história histérica a ser contada pelo guichê e seus computadores.
Dessa vez eu desci do trem do metrô, subi as escadas e quando estava me dirigindo ao setor dos guichês, vi que o relógio já marcava quatro horas e dois minutos.
Juro que nesse instante pensei:
Quando eu chegar no guichê da Cometa a mocinha vai dizer:
Só tenho para às cinco horas.
Dito e feito.
Só que isso me deu margem para responder àquela pergunta que eu mesmo me fazia em texto anterior sobre qual a razão de haver poltronas marcadas com um X no mapa do ônibus no computador.
Resposta: São poltronas destinadas aos passageiros que pegam o ônibus no meio do caminho e pagam vinte reais a menos do que os que pegam na rodoviária.
Explico que concordo que em determinados horários, se o ônibus sair lotado, os passageiros das ruas vão ficar esperando sentados.
Ainda não refleti o suficiente sobre o quanto de assertividade há nisso, mas a Renata deve ter refletido, afinal, quem é Renata é Re nascida com a incumbência de aguentar os meu argumentos.
Rio de novo e sei que você compreendeu que foi a Renata que me atendeu de forma muito simpática no guichê.
E dá-lhe eu falando pelos cotovelos.
O fato é que eu não uso o celular no bolso de trás, porém nessa semana passada usei duas vezes.
Na primeira coloquei a carteira num bolso e o celular no outro.
Fiz isso para tocar a música que compus para os meus alunos formandos do nono ano e queria ressaltar os desenhos que havia feito na parte da frente das duas pernas.
Na outra, no mesmo lugar, porém no outro dia e na outra festa, coloquei da mesma forma, porém me sentei na cadeira sem estofado para comer meu prato recheado de entradas apetitosas.
E assim o celular ficou.
Comigo sentando e levantando até que na saída fui pegá-lo.
Toda a lateral da película ultramegapower estava ralada.
Raladíssima.
Onde estão as minhas chaves, me perguntei?
Lógico queridos ouvintes, estava no mesmo bolso de trás onde estava o material mais frágil.
O metal roçando a película de vidro.
Era uma película adaptada. Segundo a moça que me vendeu, só havia película para um M32 5G e o meu é quatro, deu uma esticadinha e pronto.
Por falar em adaptação eu sou um adaptado por natureza.
Ainda ando a reflexionar se isso é algo bom, ou ruim.
O que sei é que ando bem feliz com esse jeitão de calça jeans, camiseta, tênis e cuca legal, esperando a Alicinha pintar com giz os fiozinhos brancos da cuca e fazer um tererê na minha cabeça que pensa um tanto
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