ConVivência
A importância da conVivência é a importância do coletivo.
Viver com
Veja que não tem nada a ver com o ponto com
Inclusive esse com é um com de comércio.
Ponto com
Prefiro o com de comunidade, que é mais o tom do viver coletivamente, propondo articulações de afeto e carinho.
Com certeza é por isso que valorizo a pedagogia do Wallon.
A pedagogia do afeto.
Uma maneira de ensinar ocupada com o outro e suas características genuínas e essenciais.
Características que nos seres humanos são muito distintas e devem ser respeitadas e valorizadas sempre.
Uma vez num congresso aprendi sobre a pedagogia peripatética.
O palestrante nos disse que o mestre caminhava ensinando, mostrando as coisas ao redor e filosofando sobre as suas observações.
Num momento pensei que seria maravilhoso aplicar essa pedagogia nas minhas classes de trinta alunos.
Porém, nem deu tempo, porque o palestrante advertiu que essa escola os ensinamentos eram ministrados por um mestre que andava apenas com um discípulo.
Agarro-me portanto na pedagogia do afeto, do abraço curativo, do carinho de presentear e retribuir, doar e receber, entrelaçando ocupações que geram coletivamente vários resultados positivos.
Uma tarefa que parece tão óbvia, mas muito difícil de ser aplicada.
Parece que o tal ponto com tem muito a ver com essa dificuldade, afinal comércio tem muito a ver com dinheiro.
Ponto com.
Na época do escambo o barato era a troca.
Trocávamos um saco de batatas por outro de tomates, uma tigela de mandioca por outra de pães frescos.
Até que chegaram as caravelas e espelhos foram trocados por balas, ao pior estilo Caramurú.
O comércio que a grosso modo hoje é feito em bytes, faz o dinheiro circular sem que a gente veja a sua cor.
Comércio regado a dinheiro que quando a gente vê, vira cartão de plástico, assim como plastificados ficamos nós, imobilizados pela impossibilidade de acessos, mesmo que aqueles de necessidade primária.
Nossa convivência também fica menos humanizada quando ficamos com as mãos mais ligadas à tela do que ao abraço carinhoso e ao toque dos dedos nas cordas do violão, ou nas teclas do piano.
Vez ou outra recebo uma informação importante vinda da tela, como aquela onde a Zélia Duncan declama seu poema sobre a importância da Arte.
O algoritmo não dá a menor importância para as minhas postagens artísticas, dado que é possível observar pelas poucas visualizações daquilo que posto.
Outro dia alguns alunos viram que eu tenho quase cinco K de seguidores (acho péssimo esse nome) e me chamaram de Famosinho.
Ri aos montes, afinal são quarenta e um anos de professorado e essa com certeza é a razão do número de companheiros que às vezes se interessam pelo que eu represento e expresso.
Aprendi outro dia que o tal algoritmo apresenta o que postamos para um determinada gama de companheiros que ele determina, desta forma o que eu expresso tem pouca relevância, incluindo o fato que eles não monetizam.
Aí o algoritmo tem razão porque passo os meus dias expressando a minha incapacidade de precificar o meu trabalho, já que o que me importa mesmo é o que alguém vai importar, colocar para dentro, introjetar e a partir da sua memória sensorial, reexpressar com linguagem própria, na sua vida particular e coletiva, a fim de possibilitar que outros tantos participem do mesmo processo.
Isso nada tem a ver com dinheiro, monetização, ou precificação.
Mas isso não é interessante, não interessa, parece sempre uma utopia.
Pois que seja, já que foi no Instagram, através da fala do Galeano, que aprendi que a utopia é a possibilidade de caminhar e nunca chegar ao fim, já que o fim a gente já conhece.
Enfim...
Desejo continuar caminhando, me protegendo de mim mesmo, da bondade de gente ruim e da maldade de gente boa.
Lembrando que esses versos eu conheci quando o Chico Cesar gravou em 2008 e não através do Grande Irmão, na narrativa da mocinha que agora até já esqueci o nome e hoje é precificada e monetizada apesar que ela possui algum talento.
Pela emoção do que me é coletivo, eu vivo andando com você por todos os cantos que os pardais declamam
Comentários
Postar um comentário