Botão
Tenho visto a representação de um super ator espanhol que interpreta um músico que se considera racional.
Muito mais do que espiritual - ou mais apropriado - menos afeito aos acontecimentos que se aproximam do mágico, ou paranormal.
Aqui estou eu caminhando pela calçada depois de comprar quatro pãezinhos quentes, branquinhos e sem bico.
Andando percebi uma peça de metal brilhante e côncava, brilhando na calçada e a pus no bolso da bermuda.
O outro lado da peça tinha uma saliência na circunferência inteira.
Logo pensei que colando na caixa de materiais teria que fazê-lo com a saliência para baixo usando muita cola para que os alunos não se machuquem.
Andei mais uns seis passos e me deparei com uma peça circular de plástico branco com uma saliência furada no centro.
Não demorou muito para eu tentar encaixar a peça branca na de metal prateado.
Batata.
Encaixe perfeito.
Só mais tarde me lembrei que ao pegar a peça Plástica, notei que pelo furinho passava um micro pedaço de linha marrom.
Claro que o meu pensamento mágico me remeteria a questão de como duas peças achadas a cinco metros de distância poderiam se encaixar perfeitamente, porém a lógica me mostrou um jovem andando no dia anterior pela mesma calçada por volta das Quinze horas.
Trajava um sobretudo marrom café com quatro botões para as quatro casas, perfeitamente costuradas por mãos hábeis e não por um maquinário industrial.
Estava apressado e não notou que a mochila que ele trazia nas costas estava com uma das alças solta e dançando.
No meio da caminhada, ainda na calçada, a mochila deslocou do seu ombro e atingiu o segundo botão de cima para baixo atirando-o aos saltitos sobre a calçada de pedras brancas e pretas.
Estava usando fones de ouvido sem fio, ouvindo Paranoid do Black Sabbath e nem percebeu o ruído da peça sendo arranhada pelas pedras.
E foi-se embora.
Uma hora mais tarde um jovem executivo com um skate bravio passou por cima do botão e o partiu em dois - metal e plástico - separando-os por aproximadamente cinco metros.
O resto você já conhece.
As questões que envolvem certos mistérios podem ser reveladas pelos mais variados viéses, porém sempre vai ter alicerce nas nossas próprias experimentações.
Experiências particulares, compostas pelas partículas que apenas a nós pertencem.
O meu botão está agora na menor repartição da minha mochila.
Sim, agora o botão é de minha responsabilidade, incluindo a poética.
Minha mochila está com as alças bem presas e na medida certa para que fique bem nas minhas costas.
Desta forma gastei todo o comprimento das tiras que são presas em presilhas de plástico preto.
Quando a comprei nem estava pensando se ia servir ao meu tamanho.
Só achei bonita, simples e comprei.
Ela é exatamente do meu tamanho e eu sou responsável por deixá-la o mais segura possível.
Quando estou no trem do metrô a seguro na mão pela alça de cima para não atrapalhar os outros passageiros e para que não corra o risco de estraçalhar botões.
Nessa viagem eu trago dentro dela um dinossauro.
Um aparelho de Tocar DVD com os fios de três cores e o controle remoto.
Completo.
Minha ideia é doá-lo para um jovem senhor que tem uma oficina de eletrônicos no meu bairro.
Note que eu escrevi minha ideia, mas não é apenas uma ideia.
No primeiro momento que estiver fora do trabalho regular vou levar o aparelho e ele vai me agradecer sorrindo e incrédulo como sempre.
Incrédulo porque toda vez que eu vou levar pra ele um aparelho em pleno funcionamento, ou com um detalhe a ser consertado, ele não acredita e pergunta quanto ele deve.
Como assim, deve?
São coisas que eu nunca mais vou usar nem em sonho e o Mujica é meu Mestre.
Ontem aconteceu mais um mistério na minha vida.
Mistério que podemos ver por um viés racional ou paranormal como eu já me referi, sendo que sou eu o responsável pelas consequências.
A cadeira enorme e adaptável ao corpo que pesa cinquenta quilos não entrou no elevador.
Subi três andares apoiando os braços da cadeira nas minhas coxas e subindo exatamente como um Transformer, ou como o Robocop.
Como queiras.
Ao chegar no terceiro andar, além de tomar três garrafinhas com água e esbaforir-me, não senti cansaço e nem fiquei com dores na lombar.
Apesar disso, todos os familiares para os quais conto essa historieta fazem só essa pergunta:
E como ficou a sua lombar?
O seu ciático?
Resposta sem mistério e com eletricidade cinética:
O Pai tá On
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