Ontem

Ontem quando fui almoçar no restaurante de sempre, aquele que tem uma comida honestíssima, me deparei com um par de chinelos coloridos sobre a calçada.
Estavam numa posição cruzada bem próximos a um poste caiado de branco até um metro e meio de altura.
Um dia me disseram que fazem isso para que as formigas não subam, mas nunca achei sentido nessa explicação.
Eu, um tolo.
Depois que acabei de escrever essa tese científica, lembrei que não são os postes que são caiados de branco por esse motivo formigueiro, são as Árvores.
Acho mais possível, em relação aos postes, que com ele cinza seja mais difícil para os motoristas e pedestres enxergá-los e assim mais possibilidade de ocorrerem acidentes.
Pense aí numa outra explicação.
Pois bem, os chinelos me chamaram à atenção pela distribuição das cores e fui logo me certificar que estavam com alguma deficiência.
Talvez por isso foram deixados na rua.
Será que alguém os perdeu?
Os dois pés estavam com as tiras soltas, já sem os círculos de borracha da frente.
Aqueles que prendem as tiras.
Minha suspeita estava correta.
Foram deixados por estarem inaptos ao uso.
Existem pessoas ultra criativas que furam o final da tira com um prego e o dito faz o serviço do círculo de borracha.
O chinelo não fica novo, mas fica usável.
Imagine o prego metálico tilintando no piso asfáltico, ou nas calçadas da cidade.
Iisso dá até samba no repique.
Imagine então que o cidadão tenha gasto uma fortuna para deixar o sinteco do apartamento um brinco e o mesmo entre em casa com o chinelo recauchutado com o prego.
Santo Deus.
O mais interessante deve ser você me perguntando:
Você acha que um cara que tem dinheiro para deixar o sinteco do apê uma maravilha vai precisar recauchutar um chinelo?
Acho até bem sensata a sua pergunta, mas a quantidade de gente estranha e recheada de loucura está tão grande que vai Quê!
Falando nisso, deu vontade até de uma cadeirada.
Ops! Caldeirada.
Falei em restaurante e me lembrei que a cozinheira de terça faz uma caldeirada maravilhosa, digna de ter que enfaixar o braço e colocar uma tipoia.
Estamos a misturar loucuras.
Eu estou, não sei você.
Eu sei que muitos amigos meus, além de serem artistas, são professores.
Resultado: um bando de gente que no fervor do amor verdadeiro e desinteressado, acaba se interessando pelo estresse e pelo desequilíbrio.
Um dos discos mais incríveis que eu conheço é o do Renato Russo, onde ele canta todas as canções em italiano.
O nome do Álbum é Equilíbrio distante.
Adoro usar chinelo em casa.
Num amigo secreto da escola, resolveram fazer Amigo Chinelo.
Minha amiga me deu um chinelo preto com a estampa do Star Wars.
Minha filha adora o Yoda, deve ser porque ele é conhecido como Mestre Yoda, quase como o Mestre dos Magos da Caverna do Dragão, aquela série que não tem final.
Disseram até que o Mestre dos magos é o Próprio Vingador, numa alusão à dicotomia Bem e Mal.
Mal posso esperar para rever os dois finais que alguns desocupados inventaram no YouTube.
Hoje falar em levar chineladas soa muito agressivo.
Uma vez levei uma na minha coxa branca que a impressão vermelha durou pelo menos uma semana.
Foi até melhor do que levar um salto de sapato chique no meio da testa.
Estávamos fazendo bagunça no fusca do meu pai Jorge e a dona Anna atirou o sapato na minha direção.
Eu abaixei e o salto cravou na testa da minha Mana que estava alocada naquele espacinho que os fuscas tinham, quando não tinham autofalantes.
Reparei que não quero reparar nada na minha história.
Mal coloquei reparo no par de chinelos e já me veio à ideia de escrever sobre eles.
Mas ESCREVER O QUÊ?

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