Uma bêra
Saí de casa super de boa e caminhei até o armazém para comprar legumes para o almoço.
Claro que uma caminhada urbana é sempre uma aventura para quem é fã do poeta Manoel.
Caminhar e achar nas rachaduras do cimento da calçada, todo tipo de figuras e armações trigonométricas.
Uma jovem senhora a passeio com seu cão enorme trouxe a sacolinha para pegar o cocô do chão.
Assim o fez.
Logo tratei de pensar na lei gramatical que dona Anna me ensinava constantemente: A nova lei diz que todas as palavras homógrafas não levam mais acentos.
Leia-se coco, mesmo lendo cocô.
E o que direi do côco, já que esse fruto é homógrafo de cocô?
Enfim, o dito cujo foi colocado no saquinho e colocado na lixeirinha próxima ao poste.
Falar em poste quando tratamos de cães, também acaba sendo uma redundância, afinal uma das serventias da caminhada canina é a possibilidade do reconhecimento nasal dos animaizinhos e animaizões, que primordialmente umedecem os postes.
Não ficarei em cima do muro.
Mais dois passos e um jovem veio em minha direção, caminhando com uma saia comprida.
Fui posto a pensar nas relações dos mais variados vestuários com a grande cidade.
Uma relação muito diferente que a população faz nas cidades menores.
Aqui na Metrópole quase ninguém dá importância para o que esse, ou aquele está trajando, essa, ou aquela está vestindo.
Logo tive uma impressão diferenciada se acontecesse nas escolas.
Pense que uma escola é conhecida como uma célula da sociedade, portanto um espaço físico menor.
Eu super gostei da saia e poderia usá-la para ministrar as minhas aulas, porém fiquei imaginando as reações dos famílias, responsáveis pelas crianças e adolescentes que nela habitam.
Sabe aquela certeza que não todas, mas a maioria iria detestar a ideia?
Até repudiariam tal ideia.
Dizem que a Educação vem do berço e sendo dessa forma, será que o bullying também vem?
São questões do caminhar pelas calçadas e também dos andares com automóveis em estradas de terra.
Terra mineira onde encontramos um senhorzinho caminhando devagar e tranquilo.
Estávamos com o carro cheio, lotado de malas, criança na cadeirinha de criança, mais pessoas e cachorrinho.
O senhor fez sinal, abri a janela e do lado do passageiro ele pediu: Dá bêra?
Sabe aquele minuto que parece ser horas para a compreensão do texto?
Dá bêra?
Depois de agradecer e por o carro em movimento, todos nós no automóvel, descobrimos que Dar uma Beira, era oferecer-lhe uma carona para que ele se sentasse à beira de um dos muitos passageiros.
Somos motoristas, homógrafos, ou não, saias ou calças, filósofos ou nem tanto, artistas ou simpatizantes.
Toda e toda hoje não levam acento.
Porém, nem toda gente sabe que toda é um nome de pássaro fissirrostro
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