Bluetooth
Estou correndo para apanhar o ônibus Lapa.
Adoro a expressão Apanhar o ônibus e outras tantas.
No caminho vi um rapaz dizendo com a boca bem próxima ao seu aparelho celular: Nem eu estou me reconhecendo.
Que coisa feia ouvir a conversa dos outros, porém é impossível não ouvir, já que muitas pessoas que andam pela cidade parecem estar falando sozinhas.
Você sabe que não é outra coisa senão o Bluetooth ligado e os fones sem fio nos ouvidos.
A Outra pessoa está em outro canto, sentada, em pé, em casa, ou no escritório, às vezes até comendo torradas com geleia.
O rapaz usou a expressão: Nem eu estou me reconhecendo.
Como eu adoro a expressão Conversas internas, sou obrigado a dizer que eu vivo me reconhecendo, me conhecendo de novo, de novo e de novo, o que não significa que estou pleno de ideias construtivas e ideais.
Tomara que o jovem em reflexão se conheça, possa se ressignificar, mudar o que precise mudar e intensificar aquilo que ele tem de melhor.
Já no ônibus Lapa, uso o janelão da frente como minha tela.
Fico em pé ao lado do motorista.
Minha tela ampla me possibilita ver a maioria das pessoas andando na Avenida criada para substituir a Avenida Paulista.
Lêdo engano do autor de tal ideia, já que essa é a prova cabal que não se muda uma Cultura que foi elevada à Patrimônio Cultural de um país e da Humanidade.
A Paulista continua ativa e bela.
E pelo janelão as pessoas seguem em direção contrária à minha e seguem todas diferentes umas das outras.
Roupas, calçados, corpos, cabelos e todos os detalhes que nos diferenciam e nos põe em reflexão constante sobre como agradar a tantos gostos e costumes tão diferenciados.
Por que agradar?
Uma tarefa impossível.
Digo isso sem o famoso, ou não!
É impossível mesmo e até desnecessário.
Dá a impressão que o agradar a todos é um sinal de fraternidade, de altruísmo e até compaixão.
Ao ver no meio de tanta gente uma mesinha posta na avenida às cinco da manhã, a fim de alimentar de forma um pouco mais barata os que saíram de casa às quatro, me lembrei da compaixão via empreendedorismo.
Há os que gostam do pão mais branquinho, outros do pão tostado, os do pão com miolo e os do sem miolo, esse conhecido como canoa.
E seguimos remando.
Eu tenho muita dificuldade em precificar o meu trabalho de Artista e não só esse, afinal não consigo nem pensar em remuneração quando estou em aula, ou na frente do papel sobre a mesa.
Erro meu, já refletido nas minhas conversas internas, mas existem coisas mais fortes em nós que nós mesmos.
Desculpa?
Creio que não.
As crenças também são as mais diversas, tais como ressurreição, reencarnação, missas, cultos, orações e até nenhuma oração e tampouco religião.
Eu gosto do Jesus, mas é um gosto celular genuíno, da gema, do gene, daquele que é mais forte do que eu imaginando a cena da mulher que sangrava há doze anos e disse que se tocasse na barra da túnica Dele ela seria curada.
Sem esquecermos que Ele estava sendo levado e tocado por milhares de pessoas.
Até aí, beleza.
Para mim o que mais me interessa, o mais interessante foi o Jesus dizer: Alguém me tocou!
O bravo Pedro retrucou de imediato: Como assim? Um monte de gente está nos tocando de todos os lados!
Porém o Fabuloso disse enfático: Algo saiu de mim!
Agradar a todos?
Isso agrada a mim.
Na minha conversa interna, vejo as células dele transmutando as dela, no leve toque do polegar e do indicador em pinça, só tocando a barra da túnica, a transformado, a resignificando.
As crenças merecem e devem ser diversas.
No meu carro de dois mil e treze não tenho a chance de conectar o meu celular através do Bluetooth.
Então converso sozinho sentado no banco do motorista.
E continuo me conhecendo com ecos.
Conhecendo, conhecendo, conhecendo
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