Questão de sorrisões
Estou de volta ao hospital, mas quem está doente é a dona K.
Noventa e seis anos de aventuras e venturas.
Adoro observar, ficar atento aos gestos, às necessidades e aos fazeres corriqueiros.
Os enfermeiros não conseguiam travar a porta da direita para passar a maca.
A enfermeira disse que a garrinha estava com problema desde a manhã.
Segurei a porta e os dois enfermeiros passaram com a maca.
A garrinha estava toda amassada e deformada.
Abaixei, dei uma pressionada, apertando o metal todo para a esquerda e pronto.
Fiz o movimento de fechar e a porta estancou.
No futuro alguém vai precisar de ferramentas para o definitivo conserto.
Fiquei com fome e fiquei sabendo que a lanchonete ficava no primeiro andar.
Soube graças a gentileza de uma moça sentada ao lado, que observou um senhor perguntar sobre lanche e prontamente deu todas as informações.
Pão de batata excelente, pão de queijo idem e uma coxinha de arrasar.
A lanchonete fica no primeiro andar e o elevador está quebrado, arrematou.
Notei que o senhor que falava sobre o lanche resolveu esperar o atendimento ao pai idoso para depois salvar o seu estômago.
Eu resolvi andar até o piso superior já sabendo que teria que sair do prédio que eu estava para chegar à coxinha.
Levantei da cadeira.
Depois de abrir a porta que tinha uma placa de saída colocada acima do batente, encontrei três seguranças vestidos com preto.
Não fui logo perguntando pela lanchonete.
Desejei boa noite e fiz a pergunta:
Por favor, por onde caminho para chegar à lanchonete?
O primeiro nem me deu ouvidos, o segundo olhou as horas no relógio, mas o terceiro abriu um sorrisão, me tocou no ombro e disse:
Olá, pode seguir por essa porta e a lanchonete ela fica nesse prédio ao lado.
Saí, porém havia uma advertência que indicava que aquele caminho estava fechado.
Olhei para a esquerda e vi cinco atendentes do estacionamento do hospital.
Lépido e faceiro me dirigi aos cinco.
E aí meu povo, tudo bem?
Por favor, como faço para chegar na entrada desse prédio?
Um deles se apressou em pegar um guardanapo no chão, o outro pôs a mão no bolso para conferir o bilhete da mega sena, o terceiro sacou o celular para pedir pizza na Hut, o quarto cochichou alguma coisa para o primeiro, mas o quinto abriu um sorrisão e tocou meu ombro e disse:
Boa noite meu irmão!
Você pega essa rampinha até o fim que vai dar ali na Santo Amaro.
Logo à direita você vai ver a porta automática e seguirá sempre em frente.
Cheguei.
Pedi um café, um pão de queijo e uma coxinha.
O café tomei ali mesmo e os saquinhos para viagem trouxe pra comer na cadeira da espera.
Não comer os saquinhos, mas as guloseimas que estavam dentro deles, é claro.
Com tanta história e salgados, a fome foi embora.
Apenas uma fome ainda não me foi totalmente saciada.
A que versa sobre gestos gentis.
Perceba que eu disse que essa fome não me foi totalmente saciada, afinal não houve apenas os intolerantes.
Também passearam por esse texto aqueles sorrisões que transcendem os Emojis e vêm da alma daqueles que são abençoados pela graça.
Que graça é tudo isso e que bênção é ter a chance de compartilhar esses saberes do Espírito.
O guardanapo é pra ser usado, se tivermos sede de dinheiro podemos jogar na loteria, se quisermos pizza podemos ter o Candy Crush no celular e também podemos cochichar uns para os outros:
Diante do seu sorriso, ninguém mais fala de solidão
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