O Mistério de certas coisas
É QUASE INACREDITÁVEL!
Essa foi a frase curta que ganhei de presente.
Impressionante o que me faz uma pet de refrigerante cortada na parte de cima, cheia com areia e coberta por um crochê delicado, feito com linha verde e linha branca e segura a porta da frente quando aberta.
Essas duas referências devem ser de difícil compreensão para os que não às vivenciaram.
Porém, acredito que posso solucionar esse pequeno problema com mais palavras entrelaçadas.
Impressionante o que me faz uma lata de graxa sem tampa, onde estão colocados um pássaro em origami, um botton de hipopótamo, uma Nossa Senhora de Lourdes de metal, um cubo origâmico e um anjinho de massa.
Impressionante o que me faz cada um dos desenhos, dobraduras, encaixes, pinturas e colagens que estão penduradas, ou presas com durex na parede do meu quarto, tudo vivendo sobre um enorme desenho que fiz há um tempo.
Impressionante o que me fazem. as coisas guardadas nas três caixas de papelão de cestas básicas do lugar onde agora é uma distribuidora de sorvetes.
Nas três caixas, pequenos presentes ganhos em quarenta e um anos de professorado, entre eles cadernos de poemas, livros impressos em xerox e os vindos das livrarias, um livro mágico incrível que eu ganhei numa visita com os alunos à Bienal do Livro, o livro Olho mágico, cartões de aniversário e Natal, jornais amarelados com minhas ilustrações e gravuras presenteadas pelos amigos da Faculdade.
Impressionante o que me faz passar pelas avenidas, ruas, estações e rodoviárias e não apenas passar, mas ver bem de pertinho suas sutilezas, delicadezas, Manoelezas e os seus detalhes significantes.
Tão significantes que eu não posso e nem consigo deixar barato, afinal me são muito caros.
Queridos por mim, muito bem quistos.
Sou privilegiado por ter a memória refrescada em cada ônibus, ou automóvel que eu me encontre.
Dormindo, ou acordado, sou privilegiado também por essa ativação da memória.
É quase inacreditável, mas creiam que essas descrições que fiz acima são signos que, mesmo que não estejam na condição dessa existência material, vivem bem vivas na minha memória e são despertadas do nada.
Engano meu pensar que e do nada.
É de tuso isso, pois todo esse significado é o que deflagra minhas conversas internas.
E se a minha memória conversou comigo tenho que imediatamente dar uma resposta.
E me dou o direito de tornar público.
Publico.
As insignificâncias de Manoel de Barros em mim funcionam como combustível, ou válvula motriz para a minha existência.
Anteriormente propus resolver aquele pretenso problema de compreensão daquilo que descrevo.
Saberei a resposta na experiência de continuar preservando afetos
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