Camisetas
Acabo de ler numa camiseta enquanto esperava o motorista do busão carregar a maquininha de cartão, a seguinte frase:
Deus sabe o que faz, eu Não.
Claro que a primeira coisa que fiz foi achar interessante, pois logo aguçou meu interesse.
Que o Nosso Deus tem muito trabalho com a gente eu já sabia, mas agora houve uma afronta ao trabalho incansável que ele desenvolve.
Penso que a nossa responsabilidade está cada vez mais alta frente aos desafios que nos são apresentados.
Eu tenho certeza que cada vez mais tenho que saber o que faço e como faço.
Porém, acho graça na inventividade e no senso se humor dos comunicadores visuais.
Também pensei no quão eu gosto de ser cuidadoso com as coisas que levo para os outros nas minhas camisetas.
Inclusive acho que eu, meus amigos e até desconhecidos, já com cabelos brancos e/ou raros, somos bonitos com calças jeans skinny, tênis e camiseta.
Somos vários admiradores do rock progressivo e do rock paulera, andando pelas ruas, nessa vibe a principio despretensiosa.
Eu acho triste quando vestimos aquelas bermudas cheias de bolsos, bem abaixo dos joelhos e tênis com aquelas meiazinhas sem cano.
Põe tiozinho nisso!
Apesar de cuidar para que as imagens das minhas camisetas contem com palavras em português, algumas eu ganho e vêm com o texto em inglês, como essa que agora visto, por exemplo:
Art is freedom.
Liberto-me e conceituo.
A ideia é aquela que minha mãe trazia consigo e expressava muitas e repetidas vezes, dizendo que os Estados Unidos da América do Norte iriam dominar o Brasil através da sua língua.
Certa inocência da mãezinha, mas com um vestígio de verdade, mesmo que os meios usados para a dominação aconteçam muito além da linguagem.
Sorry.
Todas as minhas camisetas que compro são lisas e apresso-me a desenhar sobre elas.
Quase sempre coloco um prato de sobremesa sobre a camiseta esticada na mesa e desenho o círculo.
A partir daí são imagens que vão se justapondo e sendo preenchidas com Grafismos.
Vejam só, foi justamente um casal de norte-americanos que resolveu chamar os nossos queridos grafismos de Zentangles.
Ouçam isso: Zentêngous.
Aqui é grafismo e pronto, um conjunto de linhas e formas que vão se multiplicando.
A gente sabe o que faz e o Deus só observando.
Fazemos estripulias com a língua, com a mente, o corpo, com a gente e com os outros.
Sempre me inquieta pensar sobre as piadas e suas implicações com o que há de estranho, estrangeiro, ou extra a nós mesmos.
Aquilo que nos é estranho vira piada, ou motivo de chacota e ferimos com um humor ácido, mesmo sabendo que o outro está desconfortável.
Tenho certeza que existe um humor mais doce, mas o que causa gargalhadas normalmente é afrontoso a alguém estranho a nós, parecendo uma forma de autodefesa estranhíssima.
Por isso a empatia não é se colocar no lugar do outro porque é impossível estar no lugar exato do outro, o lugar por onde só ele passou e passa, com suas aventuras e desventuras.
Nasce daí a célebre frase do maravilhoso Paulo Freire nos indicando que quando a Educação não é libertadora, o desejo do oprimido é tornar-se opressor.
Art is freedom.
A minha liberdade termina quando começa a do outro é uma frase que se parece uma gangorra que nos separa por uma tábua de distância, com cada um segurando com as duas mãos no seu próprio apoio de metal.
Art is freedom.
De tão preso e ensimesmado que sou, acho que Deus sabe a Arte que faz, eu Não.
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