Revelação

Parece um tanto antigo falar de Revelação, já que me remete às câmeras fotográficas analógicas.

Nós revelávamos os filmes e íamos pegar as fotos impressas em papel, semanas depois.
Nem parecia uma eternidade, já que a gente ficava imaginando e reimaginando se não tínhamos aberto a máquina sem rebobinar o filme.
Essa observação tem um Quê de negatividade, um tanto quanto melancólica, mas não.
É uma observação nostálgica e bonita, que revela uma certa preferência pelos ritos.
Fotografar, esperar ter registrado as doze, ou as vinte e quatro poses, depois rebobinar, abrir a câmera, tirar o filme, levar para a loja, esperar pela Revelação física e depois voltar à loja para mais Revelações metafísicas.
Ao escrever me revelo, imprimo alguns detalhes, travo uma conversa interna relevante, a fim de expressar aquilo que me é revelado pela aparência absoluta das coisas.
Um dia Gil me disse que a lata dele é absoluta por ter o dentro e o fora.
Assim as coisas e pessoas se apresentam ao meu olhar.
Afirmam-se pelos seus dentros e foras.
Ambos me interessam, já que o absoluto sempre me interessou e interessa.
Provavelmente uma vida sem Revelações seja uma vida improvável.
Para mim com certeza é improvável, afinal uma vida sem provações é inexistente, insustentável, inadmissível.
Está provado que a semente revela o fruto e muito mais detalhes intrínsecos.
A terra, a raiz, o caule, os galhos, as folhas.
E o que dirão os pássaros, o vento, o orvalho, o musgo, as formigas, as larvas e outras tantas Revelações?
Dirão-nos sempre e mais, afinal tantos detalhes nos escapam do tato, do olfato, da audição, do paladar e da visão.
Escapam-nos da nossa gaiola realista, vil e consumista.
Sou máquina, ou papel fotográfico?
A mim foi revelado desde o princípio que posso ser tudo, só não posso ser uma Loja

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