Reescrita
Hoje pensei em escrever sobre o Não escrever.
Um moço de estatura mediana abaixou-se quando nós estávamos no sentido da saída da estação do metrô, já passando pelas cancelas.Ele se abaixou para passar pelas catracas no sentido contrário.
Entrou sem pagar a passagem.
Achei curioso porque nunca havia visto tal fato.
Escrever tem dessas coisas, como por exemplo o relato.
Eu não escrevo quando vivencio.
Eu estava sem noção do que dedurar aqui no bloco de notas.
Sim, dedurar.
Ficar segurando o celular com todos os dedos das duas mãos, menos os dedões.
Esses que ficam achando a tela bem em cima de cada letrinha, cada número e cada sinal.
Dedurando quase tudo o que me acontece.
E veja que para quem é sedentário, até que acontece muita coisa.
O que eu não escrevo talvez eu desenhe.
Estou há um tempo querendo pintar uma encomenda que meu filho fez, para que ele coloque na parede da sala.
Uma tela já comprada, do tamanho que ele precisa e até já rascunhada a grafite.
Ontem eu tive um insight quando não estava escrevendo.
Vou começar a tela inteira com o meu desenho, trabalhando todas as linhas com caneta preta e depois vou preenchendo com alguns dos meus arabescos, que teimo em chamar de grafismos.
Chamo de grafismos porque o desenho é uma linguagem gráfica, ou seja, expressada através de pontos, linhas e formas.
Não nos esqueçamos que a forma é sempre uma Linha que se fecha.
Repare nas formas geométricas, por exemplo.
As formas que não são geométricas, são orgânicas.
Você consegue imaginar as orgânicas, mesmo nâo sendo as mais famosas.
São aquelas compostas por linhas sinuosas, tais quais as ondas do mar.
Um mar de emoções, já que compreendemos que um grafismo é uma repetição incansável de linhas, ou formas.
Um casal americano, na intenção de tornar isso mais chique resolver denominá-los de Zentangles.
Enfim, grafismos.
Você com certeza já está pensando:
Então o fato de escrevermos é um ato gráfico, afinal as letras são compostas de linhas e formas.
Exato.
Aqui estou eu olhando para a tela na qual escrevo e vejo vários sinais gráficos, que juntos, me dão a noção que estou usando o código certo para que todos os que falam português me compreendam.
Eis aí um novo desafio do não escrito.
Compreender é perceber aquilo que se esconde entre tudo o que está escrito.
Eu tenho aqui uma intenção, mas não tenho a pretensão de que todos compreendam esse texto da mesma forma que foi intencionalizado.
É assim que estou sentado na poltrona no ônibus há trinta minutos.
Meia hora de intencionalidades, mesmo que há quarenta minutos parecia não haver nenhuma.
Aparecia, aparece, apareceu.
Folheio um álbum de intencionalidades.
O meu álbum ainda não está cheio e as minhas figurinhas não são autocolantes.
Daqui eu coloco a água e a farinha de trigo no fogo, espero a água ferver mexendo sempre
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