O músculo inexistente

 Acabo de ouvir como pano de fundo da Alexa, a canção do Jorge do Bem que diz que os alquimistas estão chegando.

Um mestre dos mestres.
Um alquimista, maestro dessa galáxia me propôs um exercício de imaginação inusitado.
Veja que acabo de escrever uma bobagem sem tamanho, afinal um alquimista maestro só poderia me propor algo inusitado.
O tamanho da proposta vem com a grandiosidade do filósofo:
Pensar no nosso corpo já meio desgastado como só pele e ossos.
Um corpo raio X foi a primeira coisa que me veio à cabeça.
Ver através do maior órgão do corpo humano, as veias, o sangue circulando pelos canudinhos azuis  e os ossos branquinhos e suas articulações.
Isso.
Articulamos nossas ideias usando gelatinas mais espessas, filosóficas até, mas muito práticas a ponto de conseguirmos alcançar algum sentido, mesmo que seja através de cada interpretação.
Pensemos em gelatina espessa.
Sendo essa gelatina grossa a cartilagem que promove a possibilidade de movimentação do nosso esqueleto, é ela que pode enriquecer ainda mais as possibilidades de nos movermos entre as multidões de famintos, de miseráveis, de paupérrimos, para que num movimento de massa  ainda possamos alicerçar algum meio de diminuir essa desigualdade.
A que separa os que têm muito daqueles que não têm nada.
A pele quase tocando os ossos, essa delicadeza sutil quase tocando a densa rigidez.
Alguns ossos estão sendo usados para baterem nos tambores de pele dos animais indefesos e assustados.
Esses animais são encontrados em seus lugares naturais e mesmo tendo seus músculos em perfeito estado são derrubados de forma bruta e selvagem.
E escrevo mais uma bobagem do tamanho de um bonde.
O bonde dos selvagens.
Nós.
Os selvagens da cidade que ultrapassamos os limites e descarregamos ódio e raiva, já que a selva vive apenas e tão somente da natureza, com seu ritmo e seus passos de formigas com tanta vontade.
Nossa vontade agora é a pele, os canudinhos azuis e os ossos.
Porém resta o músculo que mantém o nosso líquido vermelho em circulação.
Circulamos o que importa no bilhete escrito no papel de pão e continuamos andando em círculos.
Porém ainda resta o músculo que pulsa.
Nesse rítmo os ossos e a pele dão forma aos bonecos dos ventríloquos.
Daqui desse lado continuamos colocando a voz em nosso pinóquio assustado.
A pele toca a pele do outro e a espinha se arrepia.
Nesse instante a alexa máquina para.
Falta energia elétrica.
Num movimento delicado a pele e os ossos alcançam as cordas do violão acústico encostado na parede e o boneco simpático canta de viva voz:
Estão chegando os alquimistas, os alquimistas estão chegando.
Viva!

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