Isolamento - Na pandemia
O prefixo ISO significa igual, ou seja, isométrico, medidas iguais de um lado e do outro.
Isotérmico, mesma temperatura.Deveria eu pensar, portanto, que Isolamento seria: Igual lamento?
Isolamento vem do verbo isolar, no seu infinitivo, de tal forma que pensaria eu novamente ser isolar:
O mesmo lar?
Lares iguais?
E por aí vai o pensamento de quem se vê isolado.
Isolado da amada, isolado da escola que ele gosta muito.
Isolado de um lado diferente, oposto, não isolado do mesmo lado.
Pelo contrário, em lados brutalmente diferentes.
Ah, mas esse isolamento também pode acontecer a partir dos lamentos diferenciados e pode nos tornar assim, muito menos lamentosos.
Lámen é macarrão num território distante, porém de onde ele veio ele trouxe a sabedoria oriental:
Arigatô.
Lamento.
Lá a mente tem o frescor de menta.
A leveza do aroma que ameniza o tormento.
A tormenta que nos assola nestes momentos pandêmicos, deve ter a sola furada de um sapato velho, já que há mais de cem anos a peste de igual tamanho não dava as caras.
Caro sapato de bico fino.
Finos são esses meus caros, caríssimos.
Que dão a cara a tapa e se dispõem a ajudar a tantos que têm muito menos do que merecem.
Isopores de marmitinhas vão sendo distribuidos pelos caríssimos com isonomia.
Isonomia que acontece de outra forma apenas entre os que fazem do dinheiro o deus isonômico.
Isonomia entre os mesmos, os poucos, os pouquíssimos.
E eu aqui isolado, não escrevo isoladamente.
Ao meu lado estão tantos e tantas que escrevem na mesma sintonia.
Sintonia é a palavra onde habita o prefixo sim, aquele que nos acompanha, que é companhia, que nos aproxima da simpatia e da empatia.
Ah, quisera eu ter o poder de me colocar no lugar do outro nesse isolamento e também muito além dele.
Coloco-me aqui em palavras que são colocadas de propósito, tantas.
Só pra juntar muitas.
Tantas e tão próximas, mesmo que isoladamente possam fazer mais sentido do que todas elas juntas.
Incrível.
Não dá para crer.
Isolados temos todos os lados para fugir de nós mesmos e não somos capazes.
Capatazes de nós mesmos, vamos chicoteando as próprias costas na tentativa de seguirmos em frente.
Usei essa figura de linguagem na narrativa pra ver se ela ativa a dor e as dores de quem não se lê e não se vê.
Mesmo que não seja mais possível mais dores, elas persistem, resistem e por mais incrível que ainda pareça, nos colocam sorrisos nos rostos singulares e plurais.
Sim, é na singularidade do isolamento que nos tornamos plurais, mesmo que só a partir da necessidade.
Só.
Eis aí o isolamento mágico.
Só.
Vai vendo.
Vai te vendo.
Vai nos vendo.
Sem nos vendermos jamais.
Conhecer-se a Si mesmo, mesmo que a sua melodia esteja em Lá.
Lá há fomento.
Por isso eu não lamento.
Nem que seja, por isolamento
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