Interessante

Que Maravilha não ter nenhum motivo aparente para escrever uma crônica rodoviária.
Não tinha.
Não havia até eu chegar a uns dez metros dos guichês de vendas de passagens.
Uma fila quilométrica exatamente ao meio dia.
Na hora fiquei tentando puxar na memória se havia esquecido alguma data comemorativa.
Qual nada.
Sistema Bugado.
Tudo tendo que ser feito a mão e os atendentes preenchendo uma guia enorme à caneta.
Primeiramente já fui me dirigindo até um guichê especial que tem até ar condicionado, destinado a idosos.
O meu caso.
Porém o Sistema está Bugado geral.
Fiquei sozinho na frente de um atendente da Caratinense.
Ali também emitem passagem para Sorocaba.
Foi apenas uma desculpa para me apoiar e começar a escrever.
Nesse momento me encontro na fila de idosos original.
A da Cometa mesmo.
Cometa a loucura de ser um Cometa que navega no espaço como um rato xereta.
Esse verso pertence a uma canção que fiz e está no CD o Bicho sem pé nem cabeça.
O tal bicho sem pé nem cabeça com certeza é autobiográfico, apesar de achar que a minha cabeça é até privilegiada pela lógica e não pela loucura.
Loucura é a espera na fila em um dia totalmente normal e tranquilo por conta de um sistema tecnológico que falhou.
A mim interessa esse processo manual.
Daqui ainda não consigo ver como está sendo executado.
Já estou chegando no guichê.
Duas pessoas na minha frente e é claro que acaba de haver uma troca de turno.
Sai o moço, entra a moça.
Rapidamente a moça já se coloca a serviço e pede a identidade da senhora à minha frente.
Não se pode ser feliz sempre.
A moça anteriormente lépida, agora olha fixamente para a tela parecendo hipnotizada, mas ainda atenta o suficiente para conversar de longe com o colega do guichê distante uns quatro metros.
Por causa do vidro que nos separa da atendente não consigo ouvir qual o problema, mesmo com os cinco buracos circulares feitos milimetricamente no vidro temperado.
Estou temperado com muita paciência isso sim.
A fila dos Normais está andando muito mais rápido do que a do idoso, porém como disse ontem a Marília que é Gabriela: A idade traz muita experiência, mas o tempo para vivênciá-la é bem mais curto.
Sorrio com certa ingenuidade ao olhar sobre o meu ombro esquerdo e ver o relógio analógico que fica bem no centro da rodoviária, coberto com plástico preto.
Ou foi uma antevisão da administração, ou ela já sabia de antemão do problema e da aflição que geraria na massa que agora espera por uma passagem, tendo hora para jogar Candy Crush no domingo.
O problema gera uma solução imediata.
O bom humor.
A atendente sorri e pergunta sobre o meu destino, quase como uma vidente cigana.
Eu já olho extasiado para o Crachá.
Querida, você é filha do Dionísio e da Marília?
Ela já em alta risada me pergunta certa da resposta:
Como Você sabe?
Respondi de pronto:
É óbvio que eu sei Dionília!
Só não contei a ela a história do Olivodi porque a fila continuou quilométrica atrás de mim.
Porém você que me lê tem mais tempo para ler e eu vou resumir.
Uma senhora fazia a triagem num pronto atendimento infantil, escrevendo os nomes das crianças por ordem de chegada.
A senhora perguntou o nome da criança de uma moça que era a primeira da fila.
Ela logo respondeu: HOLIVODI
A senhora começou escrevendo com O.
A mãe retrucou:
O nome dele não começa com essa letrinha.
A Senhora depois de começar a escrever o nome Holivodi com H, foi insistindo com várias sequências de letras e não acertou nenhuma.
Foi quando a mãe tirou no bolso de traz da calça jeans uma maço de cigarros HOLLYWOOD.
Pensando que depois dessa nada haveria no front, até que já dentro do busão o motorista segurando uma passagem na mão grita no corredor:
Daniel do quarenta e três, você quer ir pra Sorocaba?
Não, eu vou vou pra São José.
O Daniel passa correndo do meu lado e quase em choque diz:
A moça falou pra eu descer correndo que o ônibus já estava saindo e eu entrei no primeiro ônibus da Cometa que eu vi.
O motorista bem humorado ressaltou:
Não, o seu é esse aqui ao lado e ele está te esperando.
Já eu, um dia espero quase sinceramente ser astro em HOLIVODI

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