Detalhe

Costumo fazer Cartões 3D para aniversariantes, sejam parentes ou não.
Uso recortes de papéis coloridos já recortados.
Restos mesmo.
Pedaços de todos os formatos que vão sendo armazenados num saquinho plástico para serem usados futuramente.
Vou compondo com as tiras, os pedaços maiores e quase sempre coloco em relevo a Letra inicial do nome de quem aniversaria.
Outro dia minha neta artista completou seus oito anos.
Ao entrar na sua casa já fui logo lhe presenteando com o Cartão.
Ela observou a capa, a contracapa e abriu vendo a letra A saltando no centro do papel aberto.
Viu que a letra foi feita com papel branco e o buraco do A, um coração feito com papel vermelho.
Perguntou:
O que é essa coisinha amarela?
Disse-lhe que eu havia colado à Letra no lugar errado e tive que rapidamente descolar para que pudesse colocar no local previsto.
Ou seja, colei um pequeno pedaço de papel amarelo para disfarçar a manchinha do erro.
Pronto.
Ela foi logo guardar o cartão em seu lugar seguro.
Pelo menos foi o que pensei.
Passou nem um minuto e lá veio ela com o Cartão na mão e aberto.
Vovô, ficou melhor assim!
Com destreza e rapidez arrancou o papelzinho amarelo que cobria a mancha.
Eu, no auge dos meus sessenta e cinco, perguntei se ela tinha um adesivo para cobrirmos a mancha.
Eu nem sou tão detalhista assim.
Ela veio com uma cartela recheada de adesivos do filme Divetidamente 2, que também era o tema da sua festa.
Ela escolheu um adesivo circular e pronto, cobrimos a mancha.
Não só cobrimos a mancha como o Cartão ficou abraçado ao tema da comemoração.
Terminamos de ver a série filosófica onde os atores usaram muito a palavra reflexionar.
Adorei saber que a nossa mexerica, tangerina, bergamota, ou mimosa, lá em Barcelona é Mandarina.
O personagem se referiu à mandarina afirmando que para muitos, aquela fruta é apenas uma mandarina, mas para os filósofos a coisa vai muito além do que os olhos podem ver, ou seja, semelhante a total antevisão, tão proclamada pelo poeta Manoel de Barros.
Sorrio e me emociono com palavras bonitas, tais como o adjetivo pátrio Guatemalteca, por exemplo.
Claro que existem outras tantas belezas nas línguas que circulam por esse mundão.
De imediato pensei nos sotaques. Essas variáveis das línguas que muitas vezes me encantam pela diferença e diversidade das sonoridades.
Sotaques esses, que ao reflexionar, me deparei com a retirada do papelzinho amarelo do cartão.
Ao meu sotaque foi uma sacada genial colocar o papel para disfarçar meu erro, já que ele até interagia com a Letra no movimento de abertura, mas no sotaque da neta aquilo foi interferência demais na sua Letra.
O adesivo veio como um curativo, que no diálogo argumentativo acabou sendo o ganha-ganha.
Ganhamos os dois.
É demasiado triste o perde-ganha e o ganha-perde.
Quando tiramos a casca da mexerica encontramos seus gomos e podemos repartir cada um deles com tantos outros.
Vou afirmar como descobri que no Paraná a mexerica é conhecida como Mimosa.
Subíamos a rua do Colégio Getúlio Vargas e quando estávamos quase na praça Nove de julho vimos um caminhão estacionado com a caçamba carregada com mexericas.
Nosso amigo recém chegado do Paraná soltou um grito de Alegria;
Meu Deus, quanta Mimosa!
Detalhe juvenil:
No Ensino Médio todo, sob qual apelido ele ficou conhecido?
Eu sempre fui muito magro e uma única vez, fui chamado pela alcunha de Lombriga.
Alcunha não era uma menina, alcunha é sinônimo de apelido, mas o jovem mais velho que eu, que me botou a pecha, hoje é casado com a irmã de um grande amigo meu e além de ser meu amigo, tem um Cury no meio do nome.
Ganhamos os dois.
Tomara que o Cartão da Alicinha esteja em pé e entreaberto na estante do quarto dela.
Para mim os Cartões são quase como troféus.
Uma grande amiga nossa, que já ganhou uns dez, arrumou todos na sua estante da sala, ao lado do licor de mexerica e álcool de cereais que seu marido deixa descansando para que o sabor se acentue.
Vou pedir pra minha neta o pedacinho de papel amarelo e um adesivo da Alegria para colocar no rótulo no licor do geólogo.
Ganhamos todos

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