A casa da razão mágica - Crônicas Rodoviárias

Acabo de pensar na frase do Picasso sobre o Fazer Artístico. Ele disse que: Ou é Fácil, ou é Impossível. Claro que isso vale para artistas e não necessariamente para pessoas que gostam de experimentar novas aventuras, novas formas de viver e compreender as coisas de forma mais simples. Picasso quis dizer ser impossível fazer objetos de Arte, que depois de realizados vão caminhar por galerias, museus e coleções pelo mundo, ou por regiões mais próximas. Nós, Pós Modernos  e Contemporâneos gostamos de aventuras mais solitárias, tal qual solitária é a tarefa da produção de desenhos, pinturas e esculturas, em cima da mesa da sala, por exemplo. Basta a nós, aventureiros, encontrarmos um papel em branco, ou pardo, ou até colorido para testarmos linhas, formas e cores. Às vezes queremos aquarela, pastéis secos e oleosos, Nanquim, bico de pena, canetas hidrográficas com pontas brush, enfim, queremos a experiência e isso já nos basta. Muitas vezes para jovens aprendizes, basta realizar e gua...

Sentado no banco de plástico da rodoviária de Sorocaba eu vejo um senhor de cabeça branca com uma vassoura de piaçava, varrendo o chão escuro do pátio rodoviário. Quando cheguei não tinha um pingo de fome, mas não consigui resistir ao misto quente da lanchonete Telos. Tudo limpinho, nada parecido com os restos de muitos anos de calçados e descalçados do pátio. O senhor de cabelos brancos e curtos continua a sua sina de varrer os planos e os cantos. De onde eu vejo ele passa a vassoura pelas linhas amarelas, paralelamente colocadas para que os motoristas acertem as baias que lhes foram orientadas pelas planilhas de chegadas e saídas. O velho moço varreu o bilhete que caiu do bolso do menino que saiu às pressas do busão amarelo, vindo de Itapetininga. Vai que o moço tem uma reunião importante com a prestadora de serviços que emprega o senhor da limpeza? E ele continua seu trabalho, agora escorregando a piaçava que agora empurra uma embalagem fosca de batatas fritas. Adoro as novas embala...

Comecei a olhar antes de escrever. Não digo isso falando da infância, da criança que eu fui, digo de agora, já, com esses olhos desafiados. Enxergo muitos papéis colados na parede onde antes morava um desenho feito com canetão preto. Morava não. Mora, mesmo que a maioria das suas linhas esteja abstraindo seus significados. Alço os olhos mais para baixo e não vejo meus pés descalços, o que vejo é a borracha do par de sandálias. As de couro estão escondidas no armário à esquerda. Esse é o móvel que suporta a televisão de tela plana. Um pequena, não aquela maioral que mora na capital. Essa pequena emite imagens pixalizadas, diferentes das impressas nos papéis que escondem o grande pássaro de mil olhos. Dentre retratos diversos, personagens japoneses, origamis de borboletas, rosas, envelopes, papéis vegetais, kirigamis e releituras de obras famosas, existe um espaço grande para nossas filosofias práticas. Entre um corte num dos papéis e uma dobra noutro, mora um universo que se desdobra, p...

A gente continuou abrindo a torneira do box, mas a água saía fria. Era preciso que ligássemos a torneira quente da pia, que esperássemos uns cinco minutos e quando a água esquentasse podíamos abrir a torneira quente do box. Tive certeza que era só trocar as duas pilhas grandes do aquecedor e o problema estaria resolvido. E foi mesmo, problema resolvido depois de desembolsar cinquenta e dois reais pelas duas pilhas. Estou de volta à Rodoviária de Sâo Paulo voltando pra Sorocaba. Deu vontade de comprar uma xicarazinha de café com um pouquinho de leite. Perguntei desse jeito pra mocinha, quando vi de longe a mini xícara de louça: Se eu fosse comprar uma xicarazinha de café com um pouquinho de leite quanto custaria? Ela sorriu e respondeu: Dez reais e cinquenta. Eu meio que já sabia a resposta e então completei: É caríssimo, mas é melhor do que comprar remédio. Disse assim com um meio sorriso, já que meio eu já sabia e tomo. Não era o fim da história pra moca da Casa do pão de queijo. Para...